Saúde

Fiocruz alerta para risco da variante delta para idosos e crianças

Estudo aponta aumento de internações de idosos após um mês de queda no Rio, estado que teve transmissão comunitária da nova cepa já detectada.


04/08/2021

"Na covid-19, crianças apresentam uma história clara de disseminação dentro de famílias infectadas", afirma a neurocientista da UFRGS, Mellanie Fontes(Foto: Marcio James / Semcom)

WSCOM com RBA

O Brasil está a um dia de superar a marca de 20 milhões de infectados por covid-19. Hoje (3), foram 32.316 novos casos confirmados da doença, totalizando 19.985.817 doentes oficialmente registrados desde o início da pandemia, em março de 2020. O último período de 24 horas monitorado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) também foram marcadas por mais 1.209 mortes. Com o acréscimo, são 558.432 vítimas do vírus, também desde março do ano passado. Trata-se do segundo país com mais óbitos causados pela covid em todo o mundo, atrás dos Estados Unidos. Porém, o Brasil “lidera” em número de mortes ocorridas somente neste ano.

Com mortalidade cerca de quatro vezes superior à média global, o Brasil vê a curva epidemiológica de vítimas em queda. Desde a segunda quinzena de abril, com o avanço da vacinação, as mortes estão recuando. A média diária está em 942 mortos a cada um dos últimos sete dias, menor número desde 14 de janeiro. Em relação aos casos, a mesma tendência é observada. Com média móvel em 33.821, o indicador é o menor desde o dia 27 de novembro de 2020, período anterior ao início da chamada “segunda onda”, que foi o período mais letal da covid-19 até agora.

O país estima em 20,64% da população totalmente imunizada com duas doses de alguma das vacinas disponíveis, ou com uma de dose única (Janssen). A parcela dos que passaram apenas pela primeira etapa da vacinação são 52,26%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para que o surto esteja sob controle, o país deve ter imunizado completamente cerca de 80% dos seus cidadãos. A lentidão do processo de vacinação no Brasil, ainda que já apresente resultados, deixa o país ainda longe da superação da covid. Além disso, a circulação sem controle do vírus contribui para o surgimento de mutações mais agressivas.

 

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) 

Variante delta

É o caso da variante delta, identificada pela primeira vez na Índia. Até 70% mais letal e mais resistente às vacinas, sobretudo às primeiras doses, a cepa já circula de forma comunitária no Brasil e deve se tornar dominante. Em todos os países em que a variante chegou, é notável o aumento de casos. No entanto, naqueles com vacinação avançada, em especial na Europa, o aumento das mortes não acompanhou o de casos. Diferentemente dos Estados Unidos, onde aumentaram as vítimas mas, segundo autoridades sanitárias locais, mais de 96% delas é de pessoas que se recusaram a tomar vacinas.

Diante deste cenário, a OMS afirma que falta muito até que o mundo tenha a covid-19 sob controle e que o fim de medidas de isolamento social e do uso de máscaras, aliado ao avanço da variante delta, pode prejudicar os avanços alcançados com as vacinas. No Brasil, São Paulo, Maranhão, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro já identificaram transmissão comunitária da nova cepa viral. No entanto, estudos de identificação genética do coronavírus são pouco profundos no Brasil, o que mascara a realidade da disseminação.

Preocupante

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgou hoje (3) um estudo que aponta já para possíveis efeitos da variante delta no país. O material ainda está em fase de conclusão. Entretanto, a entidade identificou novo aumento no número de internações por covid-19 entre idosos. “A elevação do número de casos ocorre após cerca de quatro meses mostrando queda. A análise indica que, ainda assim, as faixas de 60-69 e 70-79 anos continuam em uma situação bem melhor do que a apresentada em picos anteriores. A preocupação maior é com a população de 80 anos ou mais”. afirmam.

Outras faixas etárias que ainda caminham para a vacinação passam a fazer parte deste momento preocupante do surto. “O estudo alerta também que a população de crianças de 0 a 9 anos encontra-se no pior momento. Aponta ainda que a faixa de 30 a 39 anos, apesar de ter registrado uma melhora, está em uma situação mais grave do que no pico do final do ano passado”. A investigação é do grupo de pesquisa para a Vigilância Epidemiológica da Fiocruz (Mave/Fiocruz) e do Observatório Covid-19 com base no no Sistema de Informações de Vigilância Epidemiológica da Fiocruz (Sivep-Gripe), do Ministério da Saúde.

Hospitalizações por covid-19 em alta entre idosos e crianças. Fonte: Fiocruz

Crianças

O estado de São Paulo anunciou que deve começar a imunizar crianças com a vacina CoronaVac nos próximos meses. A imunização deste grupo é importante. Além de que as crianças, mesmo que mais raramente, podem apresentar sintomas graves da doença, elas têm papel fundamental na transmissão do vírus para adultos e idosos. “Se observarmos pandemias passadas, na SARS (2002), os casos infantis eram esporádicos e tinham uma história clara de exposição. Na covid-19, apresentam uma história clara de disseminação dentro de famílias infectadas“, afirma a neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Mellanie Fontes-Dutra.

“Em 2020, muito se falava que a covid-19 poderia ser “mais leve” em crianças. No entanto, elas ainda têm risco para condição grave, especialmente as que apresentam alguma doença, imunocomprometimento ou (precisam fazer) uso de imunossupressores por longo prazo (…) Agora com a disseminação da variante delta, mais contagiosa/transmissível, podemos ver mais casos em crianças no futuro, especialmente se elas não forem vacinadas”, completa a especialista.



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