Agosto/1968: Eleições no DCE e DAs da UFPb

 

A Lei Suplicy de Lacerda editada em 1964, logo após o golpe militar, definiu as entidades de representação estudantil que eram permitidas, estabelecendo suas atribuições e até o processo de eleição de seus dirigentes. Estavam autorizadas as existências do DNE – Diretório Nacional dos Estudantes, os DCEs – Diretórios Centrais dos Estudantes e os DAs – Diretórios Acadêmicos. Eram organizações proibidas de exercerem atuação político-partidária. Os universitários ficavam obrigados a votarem nas eleições dos diretórios, sob pena de não poderem participar das provas escolares.

Em 1968, ano da efervescência do movimento estudantil no Brasil e no mundo, essas representações estudantis, ainda que proibidas de militarem na política, tiveram atuação importante na mobilização dos atos públicos que marcaram as lutas daquela época. Claro que entre essas organizações haviam muitas que faziam o jogo do governo, mas a medida que a atividade política se fortalecia entre os universitários e secundaristas brasileiros, protestando contra o regime autoritário que vivíamos e a política educacional do governo, os “alienados” e lideranças de direita iam sendo alijados do comando dessas instituições.

Em agosto, por recomendação da UNE e em cumprimento ao próprio calendário definido pelo Ministério da Educação, as universidades deveriam realizar as eleições dos DCEs e DAs. Na Paraíba o processo eleitoral acontecia quatro dias depois de decretada as prisões de sete estudantes, entre os quais José Ferreira da Silva e Francisco Barreto, presidente e vice, respectivamente, do Diretório Central dos Estudantes. Assumiu a direção da entidade, seu secretário geral, Francisco Rosendo Rodrigues, conhecido como François, e a ele coube a responsabilidade de comandar as eleições universitárias daquele ano, juntamente com Hélcio Lima de Oliveira, presidente da UEEP, tendo ambos assinado o edital de convocação. Ignorando o Decreto Aragão que regulamentava os pleitos universitários, quando estabelecia que os presidentes dos DCEs seriam eleitos pelos representantes dos Diretórios Acadêmicos, François e Hélcio, obedecendo decisão tomada no último seminário da União dos Estudantes da Paraíba, resolveram realizar eleições diretas para a renovação da diretoria do DCE, ainda que contrariando o que havia sido determinado pela Reitoria da UFPb, constituindo-se em fato único no Nordeste.

Concorreram à presidência do DCE, Rubens Pinto Lyra e Everaldo Nóbrega de Queiroz. Compareceram às urnas 3.027 universitários, verificando-se uma abstenção de 310 estudantes. Apurados os resultados foi proclamado como vencedor o candidato Everaldo Nóbrega de Queiroz que era apoiado pela esquerda mais radical, inclusive os líderes que tiveram prisão preventiva decretada e, por conseguinte, estavam foragidos no dia da eleição. Everaldo obteve 1.704 votos, enquanto seu concorrente, Rubens Pinto Lyra, teve 993 votos. Registraram-se ainda 159 votos em branco e 171 votos nulos.

Foram eleitos membros do Conselho: Eloizio Jerônimo Leite, da Faculdade de Ciências Econômicas de João Pessoa, Márcia Isaias, da Faculdade de Filosofia de João Pessoa, Gustavo Navarro, da Faculdade de Medicina de João Pessoa, Williams Capim, da Politécnica de Campina Grande, e Newton Pimentel, da Faculdade de Agronomia de Areia.

Para os Diretórios Acadêmicos foram eleitos: Jonas Abrantes Gadelha, na Faculdade de Direito, concorrendo com Luiz Augusto Crispim; Julião Ferreira da Silva – Odontologia; Vicente Manoel de Sousa – Engenharia; Ana Maria da Silva – Economia, Contábeis e Administração; José Ferreira da Silva – Economia; Maria Margarida de Vasconcelos – Enfermagem; Fátima Mendes Rocha – Ciências Humanas; Cleonice Teixeira Câmara – Educação; Antônio José de Lima – Farmácia e Bioquímica; Francisco de Assis Rique – Letras e Leão Júlio de Lima – Agronomia.

O presidente do DCE, ainda que foragido, chegou a votar, driblando a vigilância da Polícia Federal, graças a um aparato de proteção organizado pelos estudantes.

Na faculdade de Medicina ocorreu um grave incidente que causou a suspensão das eleições naquele dia. Na verdade o tumulto se deu muito mais por desentendimentos pessoais do que por motivações políticas. Segundo relato dos jornais da época, um grupo de universitários chegou ao local da votação com sinais de embriaguês, acompanhado de um dos candidatos, o estudante Carlos Silva, quando foram impedidos de votar porque haviam chegado atrasados. Inconformados com a decisão do presidente da Mesa, Dr. Reinaldo Rangel, um dos estudantes quebrou a urna que recebia a votação, jogando-a ao chão. Um dos universitários, que a imprensa colocava como sendo “Jandilson de Tal”, colocou um revólver no pescoço do seu colega Rafael Holanda que tentava impedir a ação de destruição da urna. Foi o suficiente para provocar uma verdadeira confusão no local. Cadeiras quebradas e arremessadas, socos, gritos e correria, fizeram da Faculdade de Medicina palco de guerra.

Excluindo a ocorrência da Faculdade de Medicina, o processo eleitoral da Universidade Federal da Paraíba transcorreu na mais absoluta normalidade. Importante registrar que apenas a Paraíba e Minas Gerais, conseguiram, naquele ano, organizarem e realizarem as eleições no DCE e DAs e empossarem os eleitos. Os presidentes dos DAs eleitos referendaram o resultado das urnas e oficializaram a eleição de Everaldo Queiroz.

A posse do novo presidente do DCE aconteceu no dia dezessete às vinte horas no auditório da FAFI. O termo de posse foi lido pelo representante do Reitor Guilhardo Martins, da UFPb, professor Ivan Cacalcanti, e pelo professor Afonso Liguori, secretário da Reitoria.

Ostensivamente se fazia presente na Faculdade o delegado da Polícia Federal, Antônio Emilio Romano, acompanhado de vários agentes, identificados pelos estudantes, provocando um clima de apreensão entre os que compareciam à solenidade.
Em seu discurso de posse, Everaldo Nóbrega, denunciou a presença dos policiais , afirmando que “não admitia a ingerência de quaisquer forças estranhas ao meio estudantil”.

• esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
• comentários e informações adicionais devem ser encaminhados para o email: iurleitao@hotmail.com

 

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