Setores progressistas da Igreja Católica, não só se solidarizaram com o movimento estudantil deflagrado no Brasil, como ofereceram apoio moral e logístico aos atos públicos promovidos em todo o território nacional.
Em Goiânia a Catedral Metropolitana foi invadida por policiais, que entraram em confronto com manifestantes abrigados naquela igreja para se protegerem das arbitrariedades que vinham sendo cometidas contra eles. Dois estudantes foram baleados no interior do templo.
O acontecimento mereceu do deputado estadual Francisco Souto, filiado a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, partido que dava sustentação ao governo, embora dissidente, reprovação manifestada em discurso pronunciado na Assembléia Legislativa da Paraíba. A seguir alguns trechos do pronunciamento do parlamentar:
“Se o governo tratasse de dialogar com os estudantes, em vez de procurar através da força esmagar o movimento estudantil, solucionaria o impasse com maior facilidade e não alimentaria uma crise da envergadura da que estamos assistindo, ocasionando a revolta do povo e se manifestando da maneira mais anti-democrática possível. Este governo que não foi votado pelo povo, que não recebeu o voto direto, vai muito além. Agora está se voltando contra o clero, que procura levar às choupanas a conscientização do povo através do Vaticano.
Os bispos católicos querem levar o povo a uma decisão e é isto o que está inquietando os que estão no governo. É isto o que leva o governo a perder a calma e tomar atitudes drásticas, com a polícia espingardeando estudantes na praça pública, invadindo inclusive locais sagrados como as igrejas. Mas é daí que iremos para uma arrancada decisiva, com o povo tomando o devido lugar em defesa de sua integridade”.
No Rio de Janeiro uma comissão de padres tentava convencer as autoridades a permitirem que os estudantes presos, ainda mantidos incomunicáveis, recebessem a sua visita.
Na manhã do dia quatro de abril o arcebispo da Arquidiocese da Paraíba, Dom José Maria Pires, em entrevista concedida à Rádio Arapuan, declarou: “A Igreja tem que considerar a situação concreta dos homens. Nesse conflito em que os estudantes não estão podendo manifestar-se com liberdade; quando estão sendo vítimas de injustiças ou de atitudes de uma certa hostilidade, a Igreja. sem dúvidas, apóia todos aqueles que procuram defender pelos meios políticos, e com a devida moderação, os seus direitos.
Não acredito que os altos escalões da república estejam promovendo a pacificação, desde que não pode haver paz onde não há justiça. E não há justiça onde não há desenvolvimento”.
A “esquerda católica”, como era chamada a ala progressista do clero, se inseria, portanto, naquela efervescente conjunta política.
• esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968.
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