Saúde

Marcelo Queiroga critica vacinação antecipada por estados e diz que que limitou imunização de adolescentes por cautela

Ministro citou 1,5 mil eventos adversos, o equivalente a 0,042% dos jovens vacinados. 93% têm relação com uso de vacinas não autorizadas pela Anvisa para esse público.


16/09/2021

WSCOM com G1

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga disse nesta quinta-feira (16) que a decisão de restringir a vacinação de adolescentes apenas aos grupos prioritários (deficiência permanente, comorbidades e privados de liberdade) tem relação com a falta de evidências científicas consolidadas sobre o benefício da imunização para este grupo.

“O Ministério da Saúde pode rever a posição desde que haja evidência científica sólida. Por enquanto, por questão de cautela, temos eventos adversos a serem investigados, temos adolescentes que tomaram vacinas que não estavam recomendadas, temos que acompanhar”, disse o ministro paraibano.

Queiroga citou que mais de 3,5 milhões de adolescentes já foram vacinados no Brasil de forma “intempestiva”, ou seja, sem a autorização do Plano Nacional de Imunizações, que previa a aplicação apenas entre os prioritários desta faixa etária (12 a 17 anos) a partir de 15 de setembro.

Segundo Queiroga, 1,5 mil adolescentes apresentaram eventos adversos, o que representa 0.042% do total. “Não é um número grande, mas temos que ficar atentos”, disse.

A maioria dos eventos adversos, 93%, ocorreu no público que tomou vacinas sem autorização para uso em adolescentes. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou, em junho, a aplicação da Pfizer a partir dos 12 anos sem restrições.

Segunda dose vetada e argumentos

O ministro esclareceu que os adolescentes sem comorbidades que já tomaram a 1ª dose não devem tomar a segunda dose. Como parte dos argumentos para o recuo na previsão de vacinar todos os adolescentes, Queiroga citou a decisão do Reino Unido de não vacinar todos a faixa etária entre 12 e 15 anos. A recomendação britânica foi tomada com base em um efeito colateral raríssimo provocado pela vacina da Pfizer: uma inflamação no coração chamada de miocardite. O governo britânico diz que vai aguardar mais estudos.

Por outro lado, o próprio ministro Queiroga admitiu que já há indicações de que o risco de miocardite associado à Covid-19 é maior do que o associado à vacinação com os imunizantes que usam a tecnologia mRNA.

A Anvisa disse em julho que acompanhava os relatos de miocardite, sobretudo nos mais jovens após a segunda dose, mas esclareceu que mantinha a recomendação da imunização com a vacina da Pfizer. Na mesma época, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que os casos eram raros e que os benefícios superavam os riscos.

Grupo autorizado

Nesta quarta-feira (15), o Ministério da Saúde publicou uma nota informativa para avisar que tirou os adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades da lista de vacinação.

Agora, a vacinação deve ficar restrita a três perfis específicos nesta faixa etária:

  • adolescentes com deficiência permanente,
  • adolescentes com comorbidades,
  • e adolescentes que estejam privados de liberdade.

A nota informativa desta quarta contraria uma outra publicada pela pasta em 2 de setembro, que recomendava a vacinação para esses adolescentes a partir do dia 15.

A decisão do Ministério da Saúde foi tomada dentro de um contexto de aumento dos relatos de falta de vacinas no país, sobretudo para a segunda dose.

Além disso, o recuo é o segundo na semana: na quarta-feira, após o ministro Marcelo Queiroga dizer que há “excesso de vacinas”, o governo voltou atrás e manteve o intervalo de 12 semanas para a segunda dose da vacina AstraZeneca. A previsão era reduzir para 8 semanas neste mês.

Eventos adversos

O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, disse que cerca de 93% dos 1,5 mil eventos adversos são considerados erros de imunização: adolescentes que foram vacinados com outros imunizantes que ainda não foram autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Um quantitativo muito grande de pessoas foi imunizado com vacinas que não tem indicação”, disse Medeiros.
São Paulo e Rio de Janeiro foram os estados que mais aplicaram doses em adolescentes: mais de 1,3 milhão e 384 mil doses, respectivamente, de acordo com o Ministério da Saúde.

O governo federal diz que os estados aplicaram doses de outras vacinas além da Pfizer: AstraZeneca, CoronaVac e Janssen.

Secretários defendem vacinação

Um dia antes da decisão do ministério, na quarta-feira, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que participa das decisões sobre os rumos do Plano Nacional de Imunizações, afirmou que a “vacinação de todos os adolescentes é segura e será necessária”.

Nesta quinta, o Conass e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) solicitaram posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a vacinação de adolescentes.

O pedido dos conselhos foi feito com base na nova orientação do Ministério da Saúde e também num “possível evento adverso grave relacionado à vacina Pfizer em adolescente do estado de São Paulo”. O ofício não explica que evento adverso é este.



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