Brasil
Lula viaja neste sábado para o Japão para reafirmar protagonismo do Brasil na Ásia
Presidente viaja para o Japão em busca de ampliar exportações, atrair investimentos e defender o multilateralismo. Em seguida, ele irá ao Vietnã.
22/03/2025

Lula ao desenbarcar de avião presidencial. © Ricardo Stuckert/PR
Brasil 247
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca neste sábado (22) para a sua mais longa viagem internacional desde dezembro de 2024, quando suspendeu compromissos no exterior por orientação médica, em meio às incertezas geopolíticas e geoeconômicas resultantes das medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O roteiro inclui visitas ao Japão e ao Vietnã, com o objetivo de fortalecer os laços bilaterais e ampliar a inserção do Brasil no eixo asiático. Em Tóquio, segundo o jornal O Globo, onde permanecerá entre os dias 24 e 27 de março, Lula se reunirá com o imperador Naruhito, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, e participará de um encontro com cerca de 500 empresários japoneses e brasileiros. A comitiva brasileira conta com aproximadamente cem integrantes.
As prioridades da visita ao Japão incluem a ampliação do comércio bilateral, novos investimentos, reforço ao multilateralismo e compromisso com ações de mitigação das mudanças climáticas. De acordo com fontes do Itamaraty e do governo japonês, esses temas ganharam relevância estratégica nos últimos anos e serão centrais nas conversas.
Entre os assuntos de maior interesse para o Brasil está a retomada das negociações para um acordo comercial entre o Mercosul e o Japão. Nesse ponto, o governo brasileiro busca se contrapor à sinalização do presidente argentino Javier Milei, que defende flexibilizar as regras do bloco e permitir acordos bilaterais fora da união aduaneira. Lula também pretende cobrar a promessa japonesa feita em 2006 sobre a instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil — compromisso que ajudou o país a adotar o padrão japonês de TV digital.
Do lado japonês, há mais de 70 documentos a serem discutidos entre representantes públicos e privados, segundo interlocutores de Tóquio. Os temas vão desde a intensificação das trocas comerciais até a discussão de iniciativas de paz em um mundo considerado cada vez mais imprevisível. Também estão na pauta a permanência do Japão no Acordo de Paris e o fortalecimento da presença empresarial no Brasil.
A relevância histórica e econômica do Japão na relação com o Brasil foi destacada pelo secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, Eduardo Saboia. “O Japão é uma grande economia, nosso mais tradicional parceiro na Ásia e é a nona origem de investimentos estrangeiros no Brasil, com um estoque de US$ 35 bilhões nos últimos três anos. O objetivo da visita é dar impulso a setores prioritários, além de novos setores na relação”.
Outro tema de interesse mútuo é o intercâmbio populacional. Estima-se que 2,7 milhões de pessoas de origem japonesa vivem no Brasil, enquanto cerca de 220 mil brasileiros residem no Japão.
Após Tóquio, Lula seguirá para Hanói, capital do Vietnã, onde encerrará a viagem. De acordo com Eduardo Saboia, o Vietnã foi o segundo país do Sudeste Asiático a ser elevado ao status de parceiro estratégico do Brasil. “Nós estamos negociando um plano de ação para implementar essa parceria e a ideia é que esse plano de ação seja adotado durante a visita”, afirmou o diplomata.
A cientista política Denilde Holzhacker, professora da ESPM, avalia que a viagem pode destravar negociações importantes para o Brasil. “Apesar dos contatos diplomáticos, os avanços são pequenos. Faltam resultados práticos”, disse. Para ela, Lula busca demonstrar que, embora mantenha fortes laços com a China, o Brasil tem interesse em diversificar suas parcerias na Ásia. “O governo sinaliza de forma mais contundente que tem fortes laços econômicos com a China, mas também tem outros interesses e parcerias estratégicas na Ásia, reforçando a posição de diversificação de parceiros e interesses do Brasil, tradicional na diplomacia brasileira”.
Já o professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, destaca que o Brasil também quer vender aviões da Embraer ao Japão, além de carnes bovina e suína. No entanto, ele avalia que a aproximação com Tóquio deve ter efeitos limitados diante da disputa comercial entre China e Estados Unidos.
“O governo Lula elegeu três eixos na política externa: meio ambiente, integração regional e equilíbrio na relação com as grandes potências. No terceiro eixo, tudo caminhou bem até a chegada de Trump. E, desde janeiro de 2025, o Brasil optou pela cautela e o pragmatismo. Isso por si só não é suficiente para fazer frente à política externa agressiva do governo Trump. E na presidência do Brics em 2025, o Brasil tem um desafio adicional: reafirmar que a coalizão Brics não é contra os EUA”, afirmou Menezes.
A visita ao Vietnã também terá como foco a consolidação da Parceria Estratégica, anunciada em novembro de 2024, durante encontro entre Lula e o primeiro-ministro vietnamita Pham Minh Chinh, à margem da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
Segundo um assessor próximo ao presidente, a estratégia de diversificar mercados na Ásia é uma resposta à crescente ameaça ao multilateralismo. “Na Ásia, não existe apenas a China, com a qual o Brasil tem uma relação profunda e de cooperação”, afirmou.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.