Política

Jornalistas relatam agressões durante passeio de Bolsonaro por Roma

Equipes de reportagem relataram empurrões e agressões verbais ao acompanhar caminhada do presidente, que foi à Itália para participar de cúpula do G-20; associação de imprensa e veículos repudiam o episódio


31/10/2021

Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em frente à embaixada do Brasil em Roma. Foto: Alan Santos/PR

Estadão



Após encerrar a sua participação na cúpula do G-20, grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo, o presidente Jair Bolsonaro retornou à embaixada do Brasil em Roma e fez o seu terceiro passeio improvisado pelo centro da cidade. A caminhada, no entanto, foi marcada pela violência. Jornalistas brasileiros que acompanhavam o presidente relataram agressões por parte da equipe de segurança do chefe do Executivo.

De acordo com o Uol, nenhum dos policiais explicou se fazia parte da embaixada brasileira, da Itália ou se eram privados. Os relatos afirmam que havia tanto italianos quanto brasileiros no grupo que fazia a proteção do presidente.

Segundo os relatos, Bolsonaro, ao voltar para a embaixada, cumprimentou, do alto de uma sacada, um grupo de apoiadores que o esperavam do lado de fora. Pouco depois, resolveu descer para encontrá-los na rua. Durante a espera pelo presidente, uma jornalista do jornal Folha de S.Paulo foi empurrada pelos seguranças do local e uma produtora da Globonews foi hostilizada pelos participantes do ato

Ao cumprimentar pessoalmente os manifestantes, Bolsonaro indicou que faria uma caminhada pelo bairro e foi seguido pelas equipes de reportagem que estavam por ali. Neste momento, os repórteres passaram a ser empurrados pelos seguranças, que tentavam fazer uma espécie de corrente de proteção, e quem presenciou o momento foi impedido de gravá-lo. Um jornalista da TV Globo relata ter recebido um soco no estômago. O celular do jornalista do Uol foi confiscado por um dos seguranças; o aparelho foi, depois, jogado na via. Repórteres do jornal O Globo e da BBC Brasil também foram agredidos verbalmente.

Com a confusão, o passeio do presidente durou pouco e menos de dez minutos depois, Bolsonaro voltou à embaixada. Os jornalistas estavam com credenciais e identificações claras no momento das agressões. O mesmo tratamento não se estendeu aos apoiadores, que puderam acompanhar de perto o presidente durante a sua breve caminhada.

Em nota, a Globo diz que condena as agressões e exige uma “apuração completa de responsabilidades”. “É a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque. Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa”, diz o texto. A Folha de S.Paulo e o Uol também repudiaram o episódio. “Mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional”, escreveu o jornal.

Associação Nacional de Jornais (ANJ) também divulgou nota em que repudia o ocorrido. “A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do próprio presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística”, diz a entidade, que também cobra apuração e a devida punição dos culpados.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que foi vice-presidente da CPI da Covid, também criticou o ato em uma rede social. “Atitude típica de ditadores covardes! Bolsonaro e seus capangas são leões contra a imprensa livre e jornalistas. Mas são mansinhos contra os esquemas de corrupção promovidos pelo Centrão e seu governo!”, escreveu.

 



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