1992: A juventude que derrubou um presidente

Movimento Caras Pintadas em 1992
Foto: Arquivo/O Globo

No domingo, 16 de agosto de 1992, milhares de jovens saíram às ruas das capitais brasileiras vestidos de preto e com os rostos pintados de verde e amarelo. Nascia, naquele dia, o movimento dos “caras pintadas”. As manifestações foram uma reação direta ao pronunciamento feito três dias antes pelo presidente Fernando Collor, em rede nacional, quando pediu o apoio da população diante das acusações de corrupção que pesavam contra ele.

Os protestos foram organizados pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), contando com a adesão de entidades da sociedade civil como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). A juventude de 1992 retomava, assim, o protagonismo nas lutas democráticas. Mesmo numa época sem redes sociais, a comunicação “boca a boca” levou à mobilização nacional, tendo como objetivo central o impeachment do presidente, no cargo desde março de 1990. O paraibano Lindbergh Farias, então presidente da UNE e hoje deputado federal, despontou como a principal liderança estudantil daquele momento histórico.

A partir dali, dezenas de manifestações se espalharam pelo país, até que, em 2 de setembro, foi aberto o processo de impeachment, impulsionado pela força da juventude nas ruas. Sete dias depois, o Congresso Nacional, em sessão histórica, aprovou a admissibilidade do pedido. O relator do processo foi o nosso conterrâneo, o então senador Antônio Mariz. Após meses de defesa e sucessivas tentativas de permanecer no cargo, Collor renunciou à Presidência da República em 29 de dezembro de 1992. O presidente que havia sido eleito com o discurso de “caçador de marajás” e com o slogan “ladrão vai para a cadeia” deixava o Palácio do Planalto pela pressão popular da geração de 1992.

A insatisfação com o governo já vinha se acumulando. A medida mais traumática foi o chamado “confisco da poupança”, quando o Plano Collor determinou o congelamento, por 18 meses, das contas bancárias com valores acima de 50 mil cruzeiros. O país vivia forte instabilidade econômica. Mas o desgaste político se intensificou em maio daquele ano, quando Pedro Collor, irmão do presidente, concedeu entrevista à revista Veja, denunciando esquemas de corrupção que envolviam Fernando Collor e seu tesoureiro, Paulo César Farias. As revelações levaram à instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar desvio de verbas públicas e pagamentos de despesas pessoais com recursos de empresas fantasmas.

A queda de Collor representou a vitória da mobilização estudantil, que retornava com força às ruas como símbolo de participação popular. As manifestações dos Caras Pintadas foram marcadas pelo humor, pela criatividade e pela ironia. Mais do que os discursos, eram os rostos pintados e a bandeira brasileira usada como vestimenta que transmitiam as mensagens de inconformismo e esperança.

O movimento dos Caras Pintadas tornou-se um marco da história recente do Brasil. Ele simbolizou a capacidade de união dos brasileiros — especialmente da juventude — na luta contra a corrupção e em defesa da democracia. Uma lição de cidadania que segue atual e necessária.

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