Política

Bebianno: Moro e Guedes tiveram “5 ou 6 conversas” durante campanha

Moro abriu mão de sua carreira de juiz após ganhar repercussão nacional com a condução da Operação Lava Jato


01/12/2019



O ex-secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, revelou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve uma sequência de conversas com Sérgio Moro, antes do 2º turno das eleições presidenciais, para convidá-lo ao Ministério da Justiça, ainda quando o então assessor econômico participava da coordenação da campanha de Jair Bolsonaro. A declaração de Bebianno ocorreu em entrevista ao jornalista Fabio Pannunzio, divulgada no fim de semana. Bebianno era um dos cotados para o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro. Segundo ele, no dia do 2º turno, em 28 de outubro de 2018, houve uma reunião na casa de Bolsonaro, horas antes do resultado final, em que Paulo Guedes informou a Bebianno, pela primeira vez, que estava em conversa com o então juiz da Operação Lava Jato. De acordo com Bebianno, Paulo Guedes afirmou que já havia tido “cinco ou seis conversas” com Moro sobre o tema.

CONFIRMANDO – “Ele [Paulo Guedes] me contou que já tinha tido cinco ou seis conversas com Sérgio Moro e que o Sérgio Moro estaria disposto a abandonar a magistratura e aceitar esse desafio como ministro da Justiça. Eu disse duas coisas ao Paulo: primeiro, eu só acredito vendo, porque, no lugar dele, eu não abriria mão da minha carreira para migrar para uma missão tão turbulenta”, disse Bebianno. “Mas eu disse ao Paulo: parabéns, porque entre mim e o Sérgio Moro, é óbvio que o Moro tem uma história mais relevante do que a minha.”

 

Bebianno afirmou que, apesar de Moro já estar em contato com a campanha presidencial dias antes do 2º turno, ele não tinha proximidade com Bolsonaro.

 

“Até onde sei, Moro não tinha contato nenhum com o Jair. Zero. Inclusive, houve uma cena pública num aeroporto em que o Jair se aproxima do Moro, cumprimenta, bate continência, e o Moro retribui de forma muito sóbria”, conta, em referência a um acontecimento em 2017. “O que posso afiançar é que nunca houve nenhum contato prévio entre o Moro e o Jair. O que houve foram algumas conversas entre o Paulo Guedes e o Sérgio Moro, iniciativa do Guedes sondando o Moro para a função.”

 

DESMASCARANDO TRAMA – A versão de Bebianno apresenta atrito com a declaração de Sérgio Moro, em entrevista coletiva em 6 de novembro, quando Jair Bolsonaro já havia vencido. Moro não detalhou que houve mais de cinco conversas com Paulo Guedes, antes do resultado do 2º turno.

 

Na ocasião, o então juiz federal afirmou que foi sondado cinco dias antes, em 23 de outubro, pelo então assessor econômico da campanha e que, na conversa, afirmou que “só poderia tratar disso depois das eleições”.

 

“Nesse ano [2018], fui procurado pelo futuro ministro da Economia, o senhor Paulo Guedes, no dia 23 de outubro, na semana antecedente ao 2º turno das eleições. Ele trazia uma sondagem acerca do meu interesse em compor o governo. Eu adiantei para ele qual era o meu entendimento sobre esse tema. Disse que só poderia, evidentemente, tratar disso depois das eleições, num eventual convite”, afirmou Moro.

 

Moro completou que aproveitou a conversa com Guedes para explicitar suas condições para a tarefa. Ele afirmou que, depois disso, recebeu um convite público de Bolsonaro em 28 de outubro e, em seguida, encontrou o presidente eleito em 1º de novembro.

 

“Mais ou menos, declinei a ele [Paulo Guedes] o que eu entenderia que seria necessário, que tipo de proposta, que tipo de projeto eu teria se assumisse essa posição, porque, se vai integrar o governo, tem que ter uma certa convergência em relação aos planos. Em seguida, houve, depois das eleições, um convite público que o senhor presidente eleito realizou, e houve esse encontro em 1º de novembro, onde nós conversamos mais longamente sobre esse convite e quais seriam os meus planos e os planos dele”, disse.

 

Moro abriu mão de sua carreira de juiz após ganhar repercussão nacional com a condução da Operação Lava Jato, principalmente após determinar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //