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‘Warcraft’ foca em gamers e esquece quem não conhece universo

ESTREIA NESTA QUINTA


02/06/2016



A franquia de games da Blizzard, “Warcraft”, é uma das mais bem sucedidas de todos os tempos. Com três jogos de estratégia em tempo real e o maior RPG online que existe — “World of warcraft” chegou a ter 12 milhões de usuários no seu ápice — não é surpresa que a série finalmente chegasse aos cinemas. Na verdade, difícil é entender por que demorou tanto para que a adaptação acontecesse. Infelizmente, talvez seja este o maior problema com “Warcraft: O primeiro encontro de dois mundos”, que estreia nesta quinta-feira (2) no Brasil.

Ao contar a história de como orcs chegaram à terra dos homens, e sua subsequente guerra, o longa deve agradar aos fãs dos jogos, mas não muita gente mais. O filme não perde tempo com explicações e apresentações de seus principais personagens — e eles são muitos. Por isso, os gamers habituados ao rico universo criado pela desenvolvedora desde 1994 podem até estranhar certas adaptações feitas à história original, mas quem foi ao cinema em busca de uma nova série de fantasia deve sair sem entender muita coisa.

Logo no subtítulo dado no Brasil, a produção deixa claro que este é apenas o primeiro passo no que tem planos de ser uma grande franquia cinematográfica. Porém, sem o desenvolvimento necessário dado a enredo, mitologia e protagonistas, o filme mais parece o segundo capítulo em alguma trilogia que não teve início e que possivelmente não terá fim.

Sobre orcs e homens

Começamos a história acompanhando orcs, seres grotescos e selvagens, acionando um portal para um novo mundo através de uma magia sinistra. Do outro lado, um reino habitado por homens obviamente não recebe bem a ameaça e se prepara para a defesa.

Com isso, o comandante dos humanos, Anduin Lothar (interpretado por Travis Fimmel com os mesmos trejeitos de seu Ragnar Lothbrok da série “Vikings”) deve convocar o guardião Medivh (Ben Foster) para enfrentar os invadores. No meio do caminho, ele recebe a ajuda do mago Khadgar (Ben Schnetzer) e ainda encontra tempo para criar elos afetivos inexplicáveis com a recém-capturada orc mestiça Garona (Paula Patton).

Se há um aspecto da produção que deve agradar aos jogadores é a ambiguidade dada aos dois lados da batalha. Logo fica claro que a Horda dos orcs não é inerentemente maligna, apenas está subjugada aos desejos de um líder dotado de poderes sobrenaturais. Durotan, líder de uma pequena tribo, quer apenas garantir a sobrevivência de seu povo e de seu bebê, e para isso não descarta procurar ajuda na Aliança dos homens.

Grande parte do trunfo de tal dualidade podem ser atribuídas ao cineasta Duncan Jones, responsável pela direção e pelo roteiro do longa. No entanto, se você já conhece os dois trabalhos anteriores do diretor, “Lunar” (2009) e “Contra o tempo”, provavelmente ficará decepcionado.

Se em seus filmes de estreia Jones ficou conhecido por conseguir trabalhar com ideias originais e absurdas com maestria, em “Warcraft” tal característica não existe. Ironicamente, essa ausência pode ser causada por sua própria admiração pelos games. Ao respeitar demais o material original, o diretor, que já se declarou jogador assíduo da franquia, abriu mão de seu estilo único.

Perguntas demais

Entre tentativas de conciliação, reinos místicos, cidades voadoras, batalhas, magias e traições, nunca é explicado exatamente o que é a tal da vileza, uma das forças motoras do enredo — de onde veio? O que quer? Do que se alimenta? O longa também não se dá ao trabalho de tentar estabelecer um motivo pelo qual os vilões agem, ou como coordenaram seu plano.

Os escolados no universo podem ficar entusiasmados com as possibilidades abertas para sequências, mas quem só procurava uma diversão casual vai sair do cinema com mais perguntas do que com pipocas comidas.

Apesar de todos os seus problemas — e do cabelinho ridículo ostentado por Dominic Cooper (“Capitão América: O primeiro vingador”) como o rei Llane –, visualmente a produção se sustenta. Os orcs criados através da captura de movimento de seus atores são interessantes o suficiente para superar a clara computação gráfica e até combinam com um mundo repleto de armaduras reluzentes e armas gigantes.

Com batalhas que chegam a ser empolgantes em seus melhores momentos e cenários deslumbrantes, “Warcraft” vale como distração momentânea, mas dificilmente se tornará o universo cinematográfico que o estúdio espera.



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