Religião

Teologia da Libertação: Alvo de críticas, movimento buscou combater desigualdades sociais através do discurso cristão e fomentou bases para o progressismo na América Latina


27/06/2025

Imagem: 15ª Estação da Cruz da América Latina, de Adolfo Pérez Esquivel

Paulo Nascimento

A Teologia da Liberdade (TL) é um movimento cristão contra a desigualdade social, principalmente na América Latina, surgindo no contexto pós-Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín, em 1968. A crença  que encontrou força no Brasil por meio da Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que carrega ensinamentos a evangélicos e conscientização política por todo país, parecidos com ideias da TL.  A corrente teológica, por sua vez, já foi alvo de críticas e divisões dentro da Igreja por defender as suas crenças.   

A CEB teve muitas ligações na política nacional, sendo o propulsor de movimentos que mesclavam as crenças da TL e de outros movimentos, assim nasceu o PT e o MST, que pregavam a igualdade social. “O PT nasceu das CEBs”, destacou o teólogo Leonardo Boff, um dos principais nomes do movimento, ao lado de Frei Betto e Dom Helder Câmara.

Essa conexão com a fé e ações sociais, trouxe à tona nomes de líderes desses movimentos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nos seus primeiros mandatos teve o apoio de lideranças religiosas como padres, freis e agentes pastorais da própria TL. Na Paraíba tivemos a ascensão de algumas lideranças religiosas no campo político como os padres Luiz Couto, Adelino dos Santos e o religioso Frei Anastácio.

“As CEBs tiveram um papel preponderante na construção de uma nova convivência entre a Igreja e as comunidades, sobretudo periféricas. A partir daí surge a Teologia da Libertação, que consiste em atender aos anseios do povo excluído. Ela possibilitou criar a consciência da resistência, muito em evidência nos anos 1970 e 1980.” reforça José Nunes, jornalista e imortal da Academia Paraibana de Letras (APL). 

A ligação com o Nordeste

A TL também influenciou diretamente a criação de movimentos como o Partido dos Trabalhadores (PT), é o que explica o presidente estadual do partido, Jackson Macedo “Os movimentos da Igreja Católica mais progressista foram fundamentais nesse processo, as pastorais sociais ajudaram na formação política do PT como partido” 

Porém, com os papados de João Paulo II e Bento XVI houve uma ascensão do conservadorismo dentro da Igreja, o que foram contra as ideias da TL, causando ataques e divisões na Igreja. Com isso, muitos teólogos foram silenciados e a Igreja passou a dar mais espaço para a Renovação Carismática Católica, em paralelo ao avanço do neopentecostalismo, enfraquecendo o progresso da CEBs nas áreas marginalizadas 

“O crescimento do movimento pentecostal e carismático tirou espaço das comunidades eclesiais de base. Esse processo foi agravado pelos próprios papados conservadores”, enfatizou Macedo. Ele completou dizendo que o PT precisa retomar o diálogo com o campo religioso:

“Ampliar esse debate é fundamental. Precisamos entender os anseios deste segmento, inclusive os evangélicos. A busca permanente é por ampliar o diálogo.”

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Sendo assim, o movimento tendo as suas dificuldades, não desapareceu. Foi só então com a eleição do Papa Francisco, em 2013, que trouxeram novos respiros para a CEB, pois Francisco era pregador da Teologia do Povo, uma crença argentina parecida com a da TL. Suas agendas voltadas  para comunidades carentes, para o meio ambiente e os direitos humanos reforçaram isso. 

Nunes reforçou que a esperança da Teologia da Libertação segue: “Não acredito que ela esteja ameaçada de desaparecer. O fogo da fé jamais perecerá, mesmo que tenha sofrido abalos causados pelas forças conservadoras. Um pacto social e cultural em nosso país passa, necessariamente, pela Teologia da Libertação.”

Os defensores da TL, acreditam que separar fé cristã e justiça social seria trair os próprios evangelhos. Macedo resume a essência do movimento: “Um olho na Bíblia e outro no mundo. Um olho na espiritualidade e outro na luta social.”



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