Paraíba

Presidente da CEF expõe narrativa de sua história ao receber Medalha Epitácio Pessoa na ALPB em sessão prestigiada


15/08/2025

Por Walter Santos

Ainda repercute a sessão especial promovida ontem, quinta-feira, pela Assembleia Legislativa do Estado para entrega da Medalha Epitácio Pessoa ao presidente da Caixa Econômica Federal, paraibano Carlos Vieira, reunindo no plenário José Mariz expressivas personalidades do Estado e fora dele.

Chamou a atenção na sessão o discurso proferido pelo homenageado narrando com riqueza de detalhes sua formação no bairro da Torre saindo de Lagoa de Dentro em 1969 até chegar às demais fases da vida sempre crescendo, ascendendo.

“Inspiro-me em Celso Furtado, o paraibano ilustre, que nos ensinou a enxergar a formação — e deformação — econômica do Brasil” – ressalta ele acrescentando que influência de “Pierre Bourdieu, que nos alerta para as sutis engrenagens das desigualdades, para compreender o papel institucional que exerço: contribuir, de alguma forma, para reduzir desigualdades, gerando oportunidades”.

Ele destaca ainda a performance do patrono da Medalha, Epitácio Pessoa desde o seu nascimento em Umbuzeiro ascendendo nacional e internacionalmente e conclui seu discurso com a força cultural de Patativa do Assaré.

Eis a íntegra do discurso, a seguir:

Crônica de Gratidão e Memória

Acordei hoje com um sabor de nostalgia. Lembrei daquele JEEP Willys em que partimos de Lagoa de Dentro para João Pessoa, nos idos de 1969. Éramos, tal qual retirantes modernos, parte de uma das últimas levas de famílias que deixavam o interior e as pequenas cidades da Paraíba em busca do conforto e da promessa de uma vida melhor na cidade grande.

Não sai da minha memória a música Triste Partida, eternizada por Luiz Gonzaga, que parecia embalar aquela mudança de mundo.

Minha lembrança infantil me leva ao número 120 da Rua Adolfo Cirne, hoje Avenida José Américo de Almeida, a nossa Beira Rio. Antes de ser a pomposa via de acesso à Praia do Cabo Branco e Altiplano, era apenas o limite leste da cidade, ainda com traços de bairro de classe média baixa. Ali vi João Pessoa crescer — e crescemos juntos.

Fui aluno de escolas simples na alfabetização — Padre Deon (na Praça Tiradentes e na sua quadra esportiva eu jogava no Grêmio de Tonho da Burra, enfrentando algumas vezes o poderoso São Gonçalo); Dona Ivete e no Instituto Montessori — e depois, também fui aluno da escola-modelo do milagre econômico no Conjunto Castelo Branco: a Escola Polivalente Presidente Médici. Seguiram-se o Lyceu Paraibano, a UFPB e, mais tarde, a UEPB. Foi nessa travessia educacional que a cidade das acácias floresceu diante de mim, e que eu mesmo me tornei meu próprio milagre, guiado pela força da educação e da família.

Nesse tempo, meu pai, seu Chiquinho, mantinha um abatedouro de galinhas no bairro da Torre. Lá conheci o hoje deputado João Gonçalves, na época, fornecedor de aves da microempresa do meu Pai. Décadas depois, já nos anos 1990, ele, era vereador e eu, Superintendente da Caixa. Foi quando me surpreendeu com o título de Cidadão Pessoense. E agora, com a Medalha Epitácio Pessoa, sinto-me novamente abraçado nesta Casa e por esta terra.

Pena que Dona Eulália, seu Francisco e Ana Maria não estejam mais neste plano para verem este momento. Acredito que de lá, de onde devem estar conversam com meus avós, talvez comentem:
“Quem imaginaria que Carlinhos, aquele menino peralta que gostava de jogar futebol na rua de barro, que num vício de linguagem pronunciava gorro e nunca gol, traria no peito tamanha honraria?”

Com certeza Dona Eulália ainda acrescentaria: tá vendo Chiquinho, valeu a pena minhas orações e nossos corretivos.

Aqui, ao lado dos meus familiares e amigos, só tenho gratidão:
• Aos meus irmãos, que foram meus primeiros mestres;
• À minha esposa, Izabela, que coloriu minha vida com amor;
• Ao meu filho, Carlos, à nora Thaís e aos netos CN, JM, Maria, Teresa e Estela, que são meu maior legado de afeto e fontes de tremenda energia e felicidade.

Aproveito para agradecer a presença de tantos amigos que me emocionam com suas presenças.

No entanto, sei que esta medalha não vem da minha vida privada. Ela é, creio eu, um reconhecimento a minha trajetória — de quem serve ao Estado e ao País, especialmente à Caixa Econômica Federal, essa instituição centenária que pulsa com o coração do povo brasileiro.

Vivemos em uma sociedade em permanente construção, na esperança de que o crescimento econômico gere desenvolvimento humano em todas as suas formas. Inspiro-me em Celso Furtado, o paraibano ilustre, que nos ensinou a enxergar a formação — e deformação — econômica do Brasil, e em Pierre Bourdieu, que nos alerta para as sutis engrenagens das desigualdades, para compreender o papel institucional que exerço: contribuir, de alguma forma, para reduzir desigualdades, gerando oportunidades.

E é impossível receber esta honraria sem lembrar de quem lhe dá nome: Epitácio Pessoa.

O Homem da Seca e das Cortes nasceu em Umbuzeiro, onde o vento arrastava poeira e anunciava desafios. Cresceu entre sol e chão rachado e levou sua voz aos salões de Haia e Versalhes, sem jamais esquecer o povo que plantava esperança na beira do nada. Como presidente, sonhou açudes e barragens, tentando transformar sede em água e poeira em futuro.

Seu exemplo ecoa até hoje: levar dignidade a quem nasceu em chão difícil.

A intenção ao resgatar sua biografia é clara: lembrar a importância desta medalha e a responsabilidade de honrá-la. Por isso, agradeço ao autor da proposição, meu dileto amigo e deputado João Gonçalves e a todos os seus pares desta honrada Casa Legislativa.

O tempo mudou. Avançamos, crescemos, e temos oportunidades que Epitácio jamais sonhou. Mas uma lição permanece: nada substitui o compromisso com a democracia e com o povo.

Porque somos, afinal, um povo que resiste e canta:
• Que pode viver “vida de gado”, como alerta Zé Ramalho,
• Mas que também sabe viver em “Estado de Poesia”, como canta Chico César.

O povo paraibano é um poema de sol e resistência, que brota no sertão e floresce na brisa do mar, carregando no peito a coragem de quem transforma silêncio em canto.

Faço parte deste povo.
Sou feliz.
Sou muito grato.

Pego emprestado um poema de Patativa do Assaré e adaptando-o demonstro como o paraibano pode ser firme e flexível tal qual um bambu da caatinga paraibana ou de sua zona de transição.

Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas nunca esmorece e procura vencê…
Não nego meu sangue, não nego meu nome…
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou paraibano.

Viva o povo paraibano e sua brava história de resistência e luta!

Muito obrigado!”



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