A propósito de Tarcísio Burity (2)

Tarcísio Burity, pelo seu acervo de obras, pelo respeito que granjeou na Paraíba e no Brasil, já ganhara a imortalidade.

O intelectual Ramalho Leite já ocupou importantes funções públicas no Estado da Paraíba, tendo sido inclusive superintendente do Jornal A União (Foto: Evandro Pereira)

Na apresentação do livro “Tarcisio Burity, um intelectual na politica paraibana”, da confreira Glauce Burity, revelei fato que era pouco conhecido, até de pessoas mais intimas do então governador. Um exemplo do que afirmo:

O jurista Miguel Reale desejava ver o filósofo do direito Tarciso Burity sentado em uma das cadeiras do Supremo Tribunal Federal. O presidente José Sarney já concordara. Faltava a aceitação do escolhido. Para o governador Burity deixar o governo havia um impasse maior: a inexistência do vice-governador para concluir o mandato. Primeiro tentamos inserir na Constituição a possibilidade de eleger um vice-governador através da Assembleia. O Jornal do Brasil chegou a noticiar: “Paraiba terá um vice biônico”. “Burity pede a juristas, formula para preencher cargo de vice-governador”. A iniciativa foi abortada por consulta do senador Humberto Lucena ao Tribunal Superior Eleitoral.

A segunda hipótese era eleger um governador para um mandato tampão, como a imprensa chamava, diante da vacância dos cargos de governador e vice, que ocorreria com a renúncia do governador. Burity demandou essa segunda tese já prevista na Constituição. Na residência do então deputado Pedro Medeiros nos reunimos com o governador e ficou acertado que eu seria o candidato à presidência da Assembleia. Teria a missão de comandar o processo de eleição indireta do governador. Burity fixou-se no nome do deputado José Lacerda Neto, seu colega de turma na Faculdade de Direito e detentor de quase dez mandatos. O desentendimento do governador Burity com o MDB e o senador Humberto Lucena, fato detalhado com documentos pela pesquisadora Glauce Burity, nos tirou a perspectiva de presidir a Assembleia. A partir de então, foi afastada a possibilidade de a Paraíba ter um ministro no Supremo.

O livro da confreira Glauce Burity pode até omitir alguns episódios que julgou irrelevantes. Mas não se esquece de provar, com documentos irrefutáveis, em todos os capítulos – na cátedra, na tribuna ou na chefia do Estado, os fatos que marcaram a vida deste político improvisado, que durante mais de uma década, dominou o cenário político e administrativo paraibano. Inicialmente escolhido por poucos, sua atividade mereceu o reconhecimento de milhares e a consagração dos paraibanos nas urnas: como deputado mais votado da história e como um governador que retornou ao posto aclamado por um movimento queremista que Getúlio Vargas inaugurara nos anos cinquenta. “Por que o povo quer”, foi o slogan que levou Burity de volta ao Palácio da Redenção.

Quem compulsar o volumoso documento que é o livro de dona Glauce, vai, sem duvida, constatar que Tarcísio Burity, pelo seu acervo de obras, pelo respeito que granjeou na Paraíba e no Brasil, já ganhara a imortalidade. Faltava o livro, um presente da sua companheira de muitas jornadas.

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