Por Filipe Andson: Mentor e Estrategista em Gestão
Existe uma palavra que vem dominando silenciosamente o vocabulário dos profissionais nos últimos anos: performance. Ela aparece nos discursos corporativos, nos podcasts de negócios, nas metas trimestrais, nos rituais de acompanhamento, nos slogans motivacionais e, principalmente, no imaginário de quem deseja “chegar lá”.
Performance é importante, e negar isso seria ignorar o próprio funcionamento das organizações modernas.
Mas há uma verdade incômoda que quase ninguém toca: a obsessão por desempenho não garante evolução.
Na verdade, em muitos casos, ela a impede.
Enquanto performance mede resultados, evolução transforma pessoas.
Performance coloca o foco no que entregamos.
Evolução, no que somos, e no que podemos nos tornar.
O paradoxo moderno: performar muito e evoluir pouco
Nos últimos dez anos, aumentaram drasticamente os estudos sobre saúde mental, produtividade e equilíbrio vida–trabalho. E todos apontam para a mesma direção: estamos performando melhor, mas vivendo pior.
Um levantamento da Deloitte com profissionais de diversas áreas mostrou que 70% dos trabalhadores já experimentaram burnout, e 83% afirmaram que a pressão por resultados cresceu significativamente após 2020.
Outro estudo, do International Stress Management Association, revelou que o Brasil está entre os países com maior índice de estresse corporativo do mundo.
Ou seja, a roda está girando mais rápido, mas não necessariamente na direção certa.
É como dirigir um carro a 160 km/h sem perceber que o tanque está vazio.
Você se impressiona com a velocidade, até que o motor simplesmente para.
O que ninguém diz: alta performance sem vida equilibrada é autossabotagem disfarçada de produtividade
Há profissionais que parecem impecáveis nos indicadores, mas destruídos por dentro.
São os campeões de curto prazo e os fracassos de longo prazo.
Entregam muito, mas conectam pouco.
Rendem demais, mas descansam de menos.
Crescem profissionalmente, mas diminuem como seres humanos.
Esses perfis são celebrados até não serem mais úteis.
E quando não são, o sistema simplesmente os substitui.
Por isso, a provocação necessária é:
De que adianta bater metas se a vida está batendo em você?
Evolução é mais cara, mais lenta e mais profunda do que performance
Performance é pontual.
Evolução é permanente.
Performance é um retrato.
Evolução é um filme.
E, no centro dessa discussão, existe uma ferramenta simples e poderosa que escancara a realidade que muitos tentam esconder: a Roda da Vida.
Enquanto o mundo corporativo celebra números, a Roda da Vida revela distorções. Ela mostra, de forma visual, que um profissional pode estar batendo recordes na área profissional enquanto desmorona emocionalmente; pode ter um financeiro sólido, mas um casamento frágil; pode ser brilhante na carreira, mas negligenciar a saúde.
As nove áreas da vida (Saúde, Emocional, Espiritual, Familiar, Conjugal, Filhos, Social, Financeiro e Profissional) formam um conjunto interdependente. Negligenciar uma é comprometer todas.
Um exemplo real: o gestor que quebrou ao vencer
Há alguns anos, um gestor de alta performance de uma empresa de médio porte que fez MBA comigo, era visto como o profissional que “segurava tudo”, o incansável, o indispensável.
Os resultados vinham, trimestre após trimestre, e ele se orgulhava de ser o último a ir embora.
Até que o inevitável aconteceu.
Primeiro vieram as dores físicas, depois os lapsos de memória, em seguida a ansiedade, e por fim, o afastamento médico.
Ele venceu no jogo corporativo, mas perdeu na vida real.
Depois de meses, ao retornar, sua frase foi direta:
“Eu bati todas as metas, menos a mais importante: cuidar de mim.”
Esse é o retrato silencioso de milhares de profissionais que acreditam que só existe evolução quando há alta performance.
Mas, no fundo, é justamente o contrário.
A pergunta que cada profissional e líder deveria fazer diariamente: estou evoluindo ou apenas performando?
Essa pergunta vale para um gestor, para um jovem profissional, para um empresário, para qualquer pessoa que esteja construindo uma vida com propósito.
Porque a verdade é uma só:
performance sem evolução é insustentável.
E evolução sem performance é incompleta.
A maturidade está no equilíbrio, e equilíbrio não é estabilidade perfeita, e sim movimento consciente.
O papel dos líderes digitais nessa nova era
Vivemos um momento em que tecnologia, inteligência artificial e novas competências estão redefinindo o que significa liderar.
Não basta entregar resultados. É preciso entender pessoas, equilibrar expectativas, gerir energia e cultivar uma vida coerente.
É por isso que, no programa Líderes Digitais, uma das bases do desenvolvimento é a integração entre performance e evolução.
Afinal, líderes que performam, mas não evoluem, se tornam obsoletos.
E líderes que evoluem, mas não performam, se tornam irrelevantes.
O líder do futuro, e do presente, entende que resultados são consequência de um ser humano inteiro, e não de uma máquina operando no limite.
Apito final
A cobrança por performance continuará aumentando.
As demandas do mercado não vão diminuir.
A tecnologia não vai esperar que você se organize.
Mas a evolução é uma escolha pessoal e ninguém pode fazer isso por você.
Então, antes de buscar performar mais, pergunte-se:
Qual área da vida estou ignorando enquanto corro atrás de resultados?
Talvez seja exatamente ali que sua verdadeira evolução está esperando.
Filipe Andson
Gestor com vasta experiência na transformação dos negócios por meio da Gestão e Liderança.
Há 16 anos, faz parte do board diretivo de uma grande empresa varejista brasileira, atualmente como CDO do grupo, avaliador do Prêmio Ser Humano da ABRH e contribuiu também como Vice-Presidente de Planejamento e Governança do PMI.
Criador do Framework Gestão Alto Impacto e escritor de livros sobre gestão e uso de Inteligência Artificial para gestores.
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