Curiosidade. Esta foi a razão alegada por Bolsonaro para, no meio da noite, usar um ferro de soldar na tentativa de abrir a tornozeleira eletrônica a que estava condenado a usar, destruindo-a. O diálogo entre a policial que o interrogou e ele é surreal:
“O senhor usou alguma coisa para queimar isso aqui?”
“Meti ferro quente aí. Curiosidade.”
“Que ferro, ferro de passar?”
“Não, ferro de solda.”
“Que horas o senhor começou a fazer isso, seu Jair?”
“Lá pro final da tarde.”
A declaração, em cima da bucha, do Flávio Bolsonaro é reveladora de que, por trás da presepada, pode estar a sucessão e a tentativa
dele se credenciar como o sucessor do pai. “Quem falar agora de sucessão do presidente Bolsonaro é canalha. O momento não é de
discutir isso, é de dar suporte a um cara que está doente dentro do cárcere.”
No dia seguinte entraram em campo os advogados. No afã de criarem uma tese de defesa que pudesse justificar a ação do seu Jair
e, eventualmente, devolvê-lo à prisão domiciliar, saíram-se com a “alucinação” sobre suposta escuta na tornozeleira. Desse modo,
ele não teria tentado retirar o aparelho, mas tão somente identificar a escuta.
Seu Jair estaria em estado de confusão mental por conta dos remédios que toma.
Em que pese a improbabilidade da tese, teria que ser comprovado que desde “lá pro final da tarde”, como ele revelou para a policial, até a madrugada, Jair estava fora de si e não sabia o que fazia. Teria que ser sustentado que seus atos estiveram fora da sua razão.
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Ora, pode ser que juridicamente a tese traga algum resultado. Isso os juízes avaliarão. Mas politicamente é um desastre. A direita está paralisada, o debate sucessório interditado por Flávio – “quem falar disso é canalha” – todos aguardando que o líder, que sofre de surtos psicóticos onde perde a consciência dos seus atos, aponte o seu herdeiro.
Outra possibilidade, inicialmente aventada, mas tão destrambelhada que logo foi abandonada, seria uma tentativa de fuga. Antecedentes suportam a tese. O jornal The New York Times noticiou que entre os dias 12 e 14 de fevereiro de 2024, após ter o passaporte apreendido, Jair “hospedou-se” na embaixada da Hungria.
Seu filho Eduardo autoexilou-se nos EUA, de onde move campanha e estimula punições a ministros do STF e a empresas brasileiras. Deputados bolsonaristas se tem evadido do País, fugindo das penas de prisão a que foram condenados. O quadro todo é lamentável. A grande liderança da direita é um homem física e mentalmente doente, mas capaz de imobilizar todo um espectro político.
Governadores, pré-candidatos à presidência da República, cumprem o triste papel de curvarem-se aos Bolsonaro, calculando que
terão alguma possibilidade de serem por eles aceitos. Entretanto, parece cada vez mais claro que os filhos não abrirão mão do espólio. Basta observar as declarações, cada vez mais desinibidas, dos filhos Flávio, Carlos e Eduardo torpedeando um a um os candidatos que se apresentam no campo da direita.
