Os Impactos das Tarifas dos EUA nas Economias dos Estados do Nordeste

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Por Paulo Amilton Maia Leite Filho

 

Agora no início de agosto do corrente ano entrou em vigor as tarifas de 50% dos EUA sobre as importações deste país de produtos brasileiros. Os impactos na economia do Nordeste brasileiro serão grandes. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas, coordenado pelo economista Flávio Ataliba, mostra que mesmo representando apenas 11,1% das exportações do Nordeste, os EUA exercem um impacto desproporcional, dada a alta concentração em produtos de baixo valor agregado e forte intensidade de mão de obra. Isso deixa o Nordeste particularmente vulnerável a choques exteriores.  Os efeitos são ainda mais agudos em cadeias produtivas com baixa capacidade de absorção interna e dependência de pequenos produtores ou cooperativas, como os setores de frutas e mel.

No caso de setores mais industrializados o impacto também será forte. No setor siderúrgico, o impacto é particularmente relevante para o Ceará, dada a presença da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), localizada naquele estado, que destina cerca de 25% de sua produção ao mercado dos EUA. As placas de aço da CSP figuram entre os principais produtos exportados pelo Nordeste, sendo um dos pilares da balança comercial da região. Em 2024, o Brasil exportou 9,6 milhões de toneladas de aço, com valor total de US$ 7,67 bilhões. Desse montante, 55,8% tiveram como destino o mercado norte-americano, gerando US$ 4,12 bilhões.

A Bahia exporta produtos siderúrgicos e químicos que podem sofrer efeitos indiretos via encarecimento ou perda de mercado. O Maranhão movimenta minérios e pastas químicas cuja demanda está ligada à indústria siderúrgica global. A perda de receita externa pode comprometer cadeias produtivas locais, afetando fornecedores, transportadoras e serviços logísticos ligados a esses setores.

Estados como Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia tem cadeias intensivas em trabalho e produtos perecíveis com pouco poder de repassar custo. Segundo o Banco do Nordeste (BNB) 73% das exportações nordestinas de perecíveis tem como destino os EUA. Exemplo destes produtos são os pescados, com novamente o Ceará como destaques, e frutas, com o caso mais notório a produção de manga e uva no vale do São Franscisco na divisa de Pernambuco e Bahia, são setores não contemplados nas isenções e altamente sensíveis ao tempo e estocagem, o que eleva o risco de perdas imediatas.

Em estudo desenvolvido pelo Escritório Técnico do Nordeste (ETENE) do BNB evidencia que, embora o impacto percentual sobre o PIB nacional pareça modesto, o efeito regional pode ser substancial, dada a concentração setorial e geográfica das exportações afetadas. O caso reforça a importância de estratégias de diversificação de mercados e produtos, bem como a necessidade de políticas públicas de apoio à competitividade das exportações nordestinas, para mitigar riscos externos e reduzir vulnerabilidades.

O estudo do ETENE sugere que se deve priorizar a negociação de isenções específicas, como no caso da manga, da uva, do cacau e do mel de abelha. Explorar janelas sazonais, pois há sinais de abertura para exceções. Diversificar destinos imediatos, como União Europeia e Oriente Médio, e usar acordos fitossanitários ativos para reduzir barreiras não-tarifárias.

Enfim, os estados nordestinos mais vulneráveis às tarifas dos EUA são, por ordem de impacto, o Ceará, ao concentrar quase metade das exportações regionais aos EUA, a Paraíba e Sergipe, com participações expressivas e dependência de setores de baixo valor agregado, a Bahia pela elevada exposição em setores sensíveis e impacto estimado no PIB local. Também Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte, especialmente nos setores de frutas, mel e pescados.

 

 

 

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