Depois de muitas reflexões sobre a Paixão de Cristo em si, que foi marcante para a minha formação cristã, e de me debruçar nos seus enigmas e mistérios, como o paradeiro desconhecido de Jesus Cristo dos doze aos trinta anos, decidi tentar interpretar a Semana Santa como um instrumento de solidariedade – que sempre foi – e de encontros e despedidas, que ainda é.
No passado, haviam os medos e as proibições, que eram alimentadas pela Igreja Católica, algumas delas absurdas como a exigência do peixe na mesa não apenas na sexta-feira como é hoje, mas também na quinta-feira santa.
Isso levava a gente humilde a bater nas portas para pedir o jejum, que normalmente era uma lata de sardinha, uma posta de um peixe de água doce que ninguém queria ou uma porção de bacalhau que ninguém gostava.
Quanto aos medos, tinha a procissão do senhor morto, se arrastando pelo chão com as beatas ostentando os seus véus, e também as sessões obrigatórias do filme A Paixão de Cristo, quase sempre no cine Plaza, que era um horror.
E talvez nem fosse tão ruim assim, mas a repetição e as pessoas chorando ao meu lado, terminaram por transformar para mim o que é um clássico em preto e branco, para muita gente, num verdadeiro circo de horrores.
E, finalmente tinha o vinho e o pão.
Pois é, o bom da festa cristã é que ela também tem a sua verve pagã que é o vinho. Nos tempos passados, da pior qualidade como os brancos alemães e os tintos da casa do padre, mas com o passar dos anos, verdadeiros néctares dos deuses.
Eram eles que embalavam os bailes de carnaval que aconteciam no clube Cabo Branco nos anos 60, inteligentemente marcados para o sábado de Aleluia, depois da meia noite, porque já era Domingo de Páscoa.
Para mim, o típico jeitinho brasileiro do ajoelhou tem que rezar.
E, claro que tinha o pão.
O pão repartido por Jesus, juntamente com os peixes, o pão dos anos jovens, o pão da vida e o pão nosso de cada dia.
E é com ele – em ritmo de rapsódia – que eu chego ao presente no fim dessa crônica, para falar da importância da Semana Santa para o turismo e a economia, não só por aqui, mas também para a maior parte do mundo ocidental.
Pois bem, foi preciso que uma rede de padarias de Brasília viesse para João Pessoa, para criar o conceito do pão que nunca falta e do café que está sempre quente e fresquinho, e com isso mudar o comércio tradicional e estar sempre de portas abertas.
Isso inclusive nos dias santos e feriados, e até mesmo no primeiro dia do ano.
Igualzinho a Globo News, que nunca desliga.
E o bom disso tudo, é que a ideia está começando a ser copiada por outros setores como os supermercados e restaurantes da cidade.
Incrivelmente, a nota destoante nessa nova realidade no feriado foi o shopping Manaíra que não abriu na sexta-feira, nem a sua praça de alimentação, para assistir a um fluxo enorme de pessoas no Mag da beira mar, onde fomos confundidos com turistas pelo vendedor da sapataria.
E tudo isso com as bençãos de Deus, na cidade que é abençoada por natureza.
Quanto às despedidas, para quase todos, na verdade é só um até logo.