Ao findar o mês de junho, quando se misturaram as festas juninas com a comemoração do tricampeonato mundial de futebol conquistado pela seleção brasileira, a grande expectativa dos paraibanos era em torno do anuncio do futuro governador do Estado. Só estavam programadas eleições diretas para senador, deputado federal e deputado estadual. O governador seria eleito num pleito indireto que confirmaria a indicação feita pelo Presidente da República.
No dia nove de julho, o radialista Geraldo Cavalcante, da Tabajara, dava o “furo”, informando que acabara de ouvir pela Rádio Globo, a oficialização do nome de Ernani Sátyro, como candidato da ARENA, ao governo da Paraíba. Escolhido pelo Presidente Médici, teve que abdicar da toga de Ministro do Tribunal Superior Militar, cargo que ocupava desde setembro de 1969, quando renunciou ao mandato de deputado federal. Em pouco tempo, a movimentação política entrou em ebulição, com graduados servidores do Palácio da Redenção, se esforçando para obter de Brasília a ratificação da notícia, o que não demorou muito.
Na verdade, não havia surpresa no acontecimento, mas foi o bastante para que os patoenses, entre eles eu, comemorassem a escolha do seu ilustre conterrâneo para ocupar o cargo de mais alto mandatário do Estado. Lembro que começamos a festejar na casa de Orlando Xavier, então Contador Geral do Banco do Estado da Paraíba, cuja especulação já o apontava como o futuro Diretor de Crédito Geral da instituição financeira paraibana, o que de fato veio a se efetivar meses depois.
Ernani Sátyro era o político paraibano de maior prestígio na alta cúpula do governo federal. Considerado um homem de direita, destacava-se, no entanto, pela sua autenticidade e coragem na afirmação de suas opiniões, mesmo quando não era do agrado dos militares. Grande tribuno e excelente articulador político, tendo sido líder do governo na Câmara Federal. Brilhante também como escritor e romancista. Ainda que não fosse o nome “in pectore” de João Agripino não sofreu dele, todavia, qualquer restrição quando de sua indicação. Até porque sabia da preferência do Presidente Médici. Portanto, não era estrategicamente bom ousar contrariá-lo.
No dia primeiro de agosto, verifica-se então a indicação do seu companheiro de chapa, recaindo na pessoa do Presidente da Assembléia Legislativa, o deputado Clóvis Bezerra.
O MDB – Movimento Democrático Brasileiro decidiu não apresentar candidatura, por considerar que a eleição não se passava de uma encenação. Iria concentrar esforços na campanha para eleger os dois senadores e a maioria na Câmara Federal e Assembléia Legislativa.
Ernani Sátyro era carinhosamente chamado pelos correligionários como “amigo velho”, por ser essa a forma como ele tratava os companheiros de militância política. Daí surgiu o apelido de “Amigão” para o Estádio que construiu em Campina Grande.
Daí em diante o assunto das rodas políticas era a formação da sua equipe de governo, o que ocorre normalmente no período que antecede a posse de qualquer um que vá assumir mandato do poder executivo.
• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.
