O Brasil enfrenta uma versão tupiniquim do célebre dilema shakespeariano: ser ou não ser. A economia do país tem problemas cuja solução depende de um governo forte, o que não temos. Mas, se for possível mudar a presidente Dilma Rousseff, as opções legais de sucessão seriam vias desastrosas de pseudossolução.
A fraqueza do governo Dilma decorre da falta de coesão, sintonia, sinergia e apoio dos partidos que formam a sua base política. Mas quem disse que isso mudaria passando-se a presidência do país ao atual vice ou ao presidente da Câmara ou do Senado? Esse seria o caminho para uma tempestade política e socioeconômica perfeita.
O novo governo seria ultraconservador, com um presidente não eleito e sem legitimidade social. Os problemas a resolver se tornariam cruciais: recessão mais forte e prolongada, inflação e desemprego de dois dígitos e taxa básica de juros acima de 15%. A busca de solução, que seria na linha superortodoxa, imporia ônus insuportável aos trabalhadores.
É ingênuo pensar que o day after de um impeachment da presidente Dilma, mesmo sendo legal, seria um céu de brigadeiro. A realidade sociopolítica emergente seria muito complicada. Provavelmente, renasceria forte o sistema de atuação política contestatória do PT, com suporte nos movimentos sociais, pessoas mais pobres e intelectuais de esquerda.
Nesse cenário, o que seria do Brasil com Michel Temer na presidência? O seu partido, o PMDB, é um conglomerado de lideranças regionais de forte teor oligárquico rural e urbano. Daí a sua instabilidade e carência de uma base programática. A sua unidade se faz por meio de precários acordos de ocupação de ministérios e cargos.
Havendo impeachment do vice-presidente, o drama brasileiro seria maior. A presidência do país passaria ao deputado Eduardo Cunha ou ao senador Renan Calheiros. Ambos são do PMDB, portanto, portadores daqueles problemas. Com o agravante de constarem da lista dos investigáveis pela Procuradoria-Geral da República no caso do Lava Jato.
O atual impasse político inviabiliza a governabilidade do país. A presidente eleita para um mandato de 4 anos ainda não governou. Há quem diga que o governo vem sendo exercido pelos presidentes da Câmara e do Senado e o ministro da Fazenda. O que não é verdade. Até porque nada foi feito, a não ser piorar a situação econômica.
Um governo alternativo, de Temer, Cunha ou Renan, seria de alto risco. Passaria no mínimo dois tormentosos anos em instalação e consolidação de uma insuficiente força política. Nesse governo politicamente frágil e ilegítimo, tudo que disser respeito à vida socioeconômica do país se tornaria muito mais difícil.
A qualidade política de um país é um meio essencial a serviço do interesse social e coletivo. No presente caso brasileiro, a razão de ser do sistema político-partidário é a realização da seguinte missão: recuperar a economia nacional aos seus níveis normais de produção, emprego, renda e inflação, numa trajetória sustentável de crescimento. Eis a questão!