Esquerda e direita capitalistas

Não se pode mais falar de esquerda e direita como antigamente. As experiências socialistas da União Soviética, China, Alemanha Oriental se foram no tempo. Hoje, tais concepções ideológicas, sociais e políticas são, de fato, autocríticas internas sobre os rumos do capitalismo. As críticas externas passaram a ser apenas no campo das ideias.

Para Karl Marx e Friedrich Engels, à luz do materialismo histórico e da dialética materialista, o socialismo seria o fim ideal para o qual tendiam as sociedades. Nesse mundo, sem luta de classes e sob o primado da propriedade coletiva, prevaleceria a distribuição da riqueza e da renda com justiça e igualdade social, política e econômica.

A humanidade perdeu uma fonte de virtude e esperança no devir. O socialismo concreto não conseguiu criar sociedades mais razoáveis. Historicamente, o socialismo real foi de baixa qualidade, comparado ao que prometiam as suas bases teórico-filosóficas. Mas como negar que se pode dizer o mesmo do capitalismo?

Para John Maynard Keynes, o sistema capitalista seria o máximo no desenvolvimento das forças produtivas e geração de riqueza. Deixava, porém, a desejar na distribuição e apropriação. Com a sua admirável Teoria do Juro do Emprego e da Moeda, Keynes propôs solução para essa deficiência do capitalismo, consagrando-o como o reino da eficiência, igualdade e democracia.

A luta da esquerda, no mundo atual, deve ser contra a crescente concentração da riqueza e da renda. Essa prática antidemocrática é inerente ao capitalismo. Sem êxito nessa luta, falar em igualdade social e democracia política é enganação. Cai o mito da racionalidade e virtudes socioeconômicas. Mas cada país tem os seus problemas.

Os países desenvolvidos estão com altos níveis de endividamento e déficits públicos e desemprego de 7,3%. As suas economias cresceram 0,8% ao ano, de 2008 a 2014. Nesse contexto, ser de esquerda é evitar que os ônus dos ajustamentos econômicos caiam sobre os trabalhadores, aposentados e benefícios sociais.

No Brasil ser de esquerda é lutar por uma agenda objetiva de conquistas relevantes em qualquer sociedade razoável do presente e do futuro. Destaca-se aí a oferta universalizada à população de serviços púbicos de educação, saúde, transporte e segurança, com alto padrão de eficiência e qualidade.

O Brasil passa por uma carência histórica singular de líderes políticos com vocação a estadistas. Sem essa espécie política rara, o país não tem um Estado capaz de viabilizar a sua prosperidade. Por isso não temos um projeto de desenvolvimento nacional. Por que as oposições, tão ávidas pelo poder, não têm propostas?

A esquerda brasileira tem que ser capaz de potencializar a energia política dos movimentos sociais nas ruas. É visível a insatisfação popular com o sistema político-partidário do país e o exercício dos poderes públicos. Aí estão as condições para avanços efetivos, no sentido da criação de uma sociedade razoável.

Mais Posts

Tem certeza de que deseja desbloquear esta publicação?
Desbloquear esquerda : 0
Tem certeza de que deseja cancelar a assinatura?
Controle sua privacidade
Nosso site utiliza cookies para melhorar a navegação. Política de PrivacidadeTermos de Uso