Passei muito tempo acreditando em Papai Noel. Essa figura legendária estimulou minha capacidade de fantasiar durante toda a minha primeira infância. A noite de Natal era ansiosamente aguardada porque estava prevista a chegada dele trazendo o meu presente. Ia dormir pensando nisso. E logo cedo, ao acordar, a primeira coisa a fazer era matar a curiosidade observando o que ele havia deixado embaixo de minha cama.
Na minha casa essa tradição sempre foi estimulada. Acho até que isso incentiva o poder de imaginação da criança. Papai Noel é parte integrante do encantamento da festa do Natal. Ele simboliza, na figura do bom velhinho, o espírito de confraternização que prevalece na data comemorativa do aniversário de nascimento de Jesus. Ele exerce uma espécie de magia na consciência infantil.
Tenho para mim que essa figura mítica já não faz parte da crença da grande maioria das crianças de hoje. Alguns preferem fazer de conta que acreditam para não perderem a oportunidade de ganhar presentes. Isso acontece também porque, já na primeira infância, os meninos e meninas não são tão ingênuos, quanto éramos naquele tempo. O que não é bom. A inocência é a maior virtude da infância. Perdê-la é fazer desaparecer o lirismo e a candura que caracterizam essa fase da vida.
Papai Noel ganhou a imagem de um promotor da propaganda comercial. Esse que vemos fazendo marketing não é o que deixava os presentes debaixo de minha cama. O nosso Papai Noel era puro, caridoso, inspirava bondade, amor aos pequeninos, na observância dos ensinamentos que nos deixou Jesus. O do mundo capitalista só atende o desejo dos ricos, dos que têm condições de consumir o que lhes é oferecido.
Alguns dirão que Papai Noel nunca presenteou os pobrezinhos. No entanto, não há criança que, nos seus primeiros anos de vida, deixe de alimentar o sonho de receber um presente de Papai Noel. Nunca devemos matar a esperança infantil que se estabelece na expectativa da chegada do Papai Noel. Podemos fazer às vezes dele no Natal distribuindo presentes com os que fazem parte de famílias cujos pais não têm condições de atenderem esse sonho tão comum em qualquer criança.
• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.
—