Excetuando São Paulo acho que as manifestações ficaram muito aquém do esperado pelos seus organizadores em termos de quantidade, mas foram marcantes pela demonstração de luta. Não pode ser desconsiderado o fato de que boa parcela da população tem recados duros em direção ao governo. Não obstante o inconsequente pedido de impeachement, os gritos em defesa de um país que se liberte da corrupção e um tratamento severo e igualitário com todos os que se comportam na prática da improbidade administrativa, não podem ser ignorados.
Não adianta falar que a maioria era de pessoas que integram a elite, a burguesia. Também não vale estar aqui falando que o movimento recebeu o apoio e divulgação da imprensa golpista. O fato é que os atos públicos tiveram repercussão e merecem ser analisados com cuidado. Qualquer governo que se intitule democrático não pode ficar de ouvidos moucos ao clamor das ruas, independente do “quantum” de manifestantes ou da classe social a que pertençam. Todos têm direito de exprimir suas insatisfações, sejam ou não bem intencionadas.
Pelo pronunciamento do governo ontem a noite, por dois dos seus ministros, ficou bem claro que os que administram o país absorveram democraticamente as mensagens das praças públicas. Assumiram o compromisso da adoção de medidas imediatas no sentido de apertarem o cerco contra a corrupção e, com certeza, novas medidas serão tomadas, amparadas no sentimento popular expresso ontem. A reforma política cada vez se faz mais urgente. O financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas tem que ser abolido, porque está provado que tem sido o instrumento maior da vinculação administração pública e iniciativa privada nas negociatas que estimulam as propinas e os desvios de recursos públicos.
No entanto, essa é a hora de união dos brasileiros. Evitemos os confrontos ideológicos ou partidários. Façamos do nosso amor cívico e patriótico a motivação do esforço para estarmos juntos em busca de um país melhor, mais justo e igualitário. O momento é de extrema responsabilidade. Desarmemos os espíritos dos que teimam em insuflar a beligerância. Mas, antes de tudo, preservemos as regras democráticas que, a muito custo, reconquistamos. E que Deus nos proteja.