“Mentiste”

Em 1994, Luiz Vieira deu melodia a um poema do paraibano Ronaldo Cunha Lima, cujo título é “Mentiste”. Nessa canção o “eu lírico” declara que enfim percebeu que estava vivendo uma história de amor plantada na mentira permanente da pessoa por quem se apaixonou um dia.

“Tu mentiste pra mim o tempo todo/Mentiste do começo até o fim”. O personagem que canta a música percebe então que desde o início foi vítima de uma mentira. A pessoa a quem dedicava seu amor nunca foi verdadeira na condução desse enredo romântico. Conseguiu enganar por muito tempo, atuando como uma verdadeira atriz, comportando-se de forma a construir uma ilusão.

“Mentiste escondendo o próprio lodo/Que tua alma guardava para mim/Tu mentiste no não como no sim”. Na mentira ela procurava disfarçar defeitos que poderiam no futuro serem transferidos para ele. Usava uma máscara para encobrir sua face real. Faltava com a verdade nas afirmações e nas negativas, porque tudo não passava de uma estratégia de convencimento do que de fato não existia: a correspondência do amor.

“Mentiste na verdade e no engodo/Mentiste no elogio, mentiste a rodo nas lágrimas/No riso, em tudo, enfim”. Na prática do ludíbrio, até quando procurava falar a verdade por trás tinha alguma falsidade adredemente articulada. Astuciosamente se valia da lisonja fingida para se mostrar interessada naquele idílio. Eram pura simulação seus prantos, assim como eram a mais completa farsa suas manifestações de elogios. No riso cínico estava exposta a desfaçatez. Enfim, em tudo residia na mentira.

“Tu mentiste nas falas e nos gestos/Tu mentiste até mesmo nos protestos/Simulando expressões de sua ira”. Vivia assistindo a encenação teatral de aparências com gestos, atitudes e palavras, ardilosamente estudados. Quando reclamava, brigava, representando instantes de ira, fazia parte da artimanha, do planejado sentido de fazê-lo persuadir-se de que o amava tanto que provocava discussões para vê-lo preocupado pela ameaça de perdê-la.

“E eu guardei tuas mentiras na memória/E concluo afinal que a nossa história/Foi a maior de todas as mentiras”. Findo o relacionamento, vê então, ao relembrar de todos os momentos vividos juntos, que a história que compartilharam por algum tempo, foi na verdade a maior de todas as mentiras.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

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