O recém publicado livro “Capital in the Twenty-First Century” (O Capital no Século XXI) do economista francês Thomas Piketty, nas edições em inglês, já é um best-seller. O autor investiga a dinâmica da desigualdade da riqueza e da renda em vários países, indo até antes do Século XIX. Esse sucesso editorial e de público é um fenômeno, tendo em vista o conteúdo acadêmico, técnico e científico da obra.
Há amplo consenso, em centenas de resenhas e análises, a respeito das conclusões relevantes de Piketty sobre o capitalismo: a) a concentração da riqueza e da renda aumenta com o crescimento econômico, b) no Século XX, os períodos de redução da desigualdade foram exceção à regra, c) nas últimas três décadas, essa desigualdade vem sendo cada vez maior, nos países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, e menor nos países em desenvolvimento, como a Índia e a China, d) as forças de mercado não freiam esse processo e e) o Estado pode e deve conter a desigualdade crescente.
Piketty analisou a distribuição da renda entre o capital e o trabalho, em 20 países, à luz da teoria neoclássica da produtividade marginal. Por aí, o valor do salário seria igual ao do produto gerado pelo trabalhador. O ganho de um proprietário de capital (máquinas, equipamentos, instalações, aplicações financeiras, etc.) seria igual ao que este produz.
Apoiado nessa teoria, Piketty concluiu que os rendimentos do capital (r) crescem mais do que a produtividade do trabalho (g). Por isso, a riqueza dos donos do capital cresce mais do que a dos trabalhadores. Desse modo, r > g conduz ao aumento da concentração do capital e da desigualdade de renda. A mobilidade social seria obstruída pela força concentradora crescente da riqueza.
As conclusões de Piketty fulminam os mitos e premissas básicas da apologia da racionalidade do capitalismo, suas virtudes sociopolíticas e a recompensa pela eficiência. As sociedades capitalistas seriam excludentes, com desigualdade crescente e sem oportunidades iguais para todos. Os herdeiros de grandes fortunas se apropriam de grandes parcelas de renda que não derivam de suas ações empreendedoras ou méritos produtivos.
As críticas de Piketty não vislumbram o fim ou a superação histórica do capitalismo. Afirmam, porém, que o capitalismo está longe de ser, na prática, o que decantam as suas vãs filosofias e ideologias. O problema central é que o modelo atual é incapaz de promover a prosperidade econômica com democratização dos seus resultados.
Para Piketty, há solução para essa carência de democratização da prosperidade no capitalismo. Para tanto, sugere a tributação da riqueza e uma taxação acima de 80% para as altas rendas. Essa supertributação incidiria sobre os capitalistas, entendidos como as pessoas beneficiárias da renda do capital, ou seja, a parte do 1% mais rico da população que inclui, também, os trabalhadores que recebem gigantescos salários: dirigentes, gerentes, etc. dos negócios capitalistas.
O livro de Piketty é brilhante, sobretudo pela comprovação empírica da desigualdade crescente da riqueza e da renda, no mundo do capital. Mas não avança na concepção metodologia, teórica e filosófica dessa realidade. Isso talvez justifique a singeleza da sua proposta de solução e redenção do capitalismo pela via da tributação dos mais ricos.
