Desde a década de sessenta, Roberto Carlos nunca perdeu a sua majestade. Continua sendo aplaudido e admirado como o grande intérprete das nossas emoções. Em muitas das suas canções e de forma romântica, ele exalta a figura da mulher como parceira, companheira e amante envolvida no respeito e na admiração. A partir dos anos setenta, sempre em parceria com Erasmo Carlos, suas letras se mostraram surpreendentemente ousadas ao abordarem mais explicitamente o tema amor. Entre elas “Os seus botões”, lançada em 1976, quando narra toda a sensualidade no encontro de um homem com a mulher amada, cantando em detalhes a intimidade vivenciada por dois apaixonados.
“Os botões da blusa que você usava/E meio confusa desabotoava/Iam, pouco a pouco, me deixando ver/No meio de tudo, um pouco de você”. A lembrança da primeira vez em que fizeram amor. Ela nervosa, um tanto tímida ao desabotoar a blusa, e aos poucos, deixando ver a nudez do seu corpo. Um inesquecível ritual que antecede o momento de intenso prazer e paixão que estavam prestes a viver. A intimidade enfim sendo revelada entre enamorados.
“Nos lençóis macios amantes se dão/Travesseiros soltos, roupas pelo chão/Braços que se abraçam/Bocas que murmuram/Palavras de amor enquanto se procuram”. A desarrumação no quarto que se fez cenário da realização dos desejos até então contidos. Tornam-se amantes e se entregam inteiramente um ao outro, sem a preocupação com a organização do ambiente, travesseiros e roupas jogados ao chão. Na troca de carícias, sussurram juras de amor, ao tempo em que avidamente estão se descobrindo.
“Chovia lá fora e a capa pendurada/Assistia tudo e não dizia nada/E aquela blusa que você usava/Num canto qualquer tranquila esperava”. Lá fora o barulho da chuva misturava-se aos sons que emitiam no êxtase da relação. A “capa pendurada” parecia ser testemunha única daquele acontecimento em segredo. E largada a um canto qualquer do quarto estava a blusa, cujos botões ele assistiu serem desabotoados com sofreguidão, esperava tranquilamente que terminassem os delírios provocados pelos prazeres carnais.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

