Difícil entender porque Renato Russo deu o nome de “Sete cidades” a essa música, quando não há em toda a sua letra qualquer alusão ao que se refere o título. Dizem alguns que ela teria sido escrita em partes numa turnê artística por sete cidades. A canção, romântica, fala de um relacionamento em que se manifesta um certo sentimento de posse, um amor que gera uma dependência um do outro, difícil de ser vivido com a ausência da pessoa amada.
“Já me acostumei com a tua voz/Com teu rosto e teu olhar/Me partiram em dois/E procuro agora o que é minha metade”. A convivência gerou um hábito em que se expressa um vínculo de dependência. Tudo nela se afirma como formas de estabelecer um elo de ligação muito forte: a voz, o olhar, o semblante. E quando ela se distancia fica meio atordoado, como se estivesse perdendo a sua metade, só se sente completo quando estão juntos.
“Quando não estás aqui/Sinto falta de mim mesmo/E sinto falta do meu corpo junto ao teu”. E renovando suas juras de amor diz que quando ela se ausenta sofre sentindo a sua falta. Vive o tormento de não poder compartilhar do prazer de ter o corpo da mulher que ama ao seu lado.
“Meu coração é tão tosco e tão pobre/Não sabe ainda os caminhos do mundo”. Revela-se imaturo, alguém que ainda precisa aprender muito sobre os assuntos que dizem respeito ao coração. Julga-se inexperiente na questão.
“Quando não estás aqui/Sinto medo de mim mesmo/E sinto falta do teu corpo junto ao meu”. Nessa estrofe ele admite que chega a sentir medo de si mesmo. Tem receio de que se perca no rumo das coisas ao se desconhecer nessa incapacidade de assumir a relação de uma maneira mais racional e mais tranquila.
“Vem depressa pra mim/Que eu não sei esperar/Já fizemos promessas demais”. Fica ansioso, contando as horas e os minutos para novamente ter a companhia de sua amada. Sabe que foram muitas as promessas que já fizeram um ao outro, mas mesmo assim ainda se sente inseguro.
“E já me acostumei com a sua voz/Quando estou contigo estou em paz/Quando não estás aqui/Meu espírito se perde, voa longe”. Está convicto de que só ficará em paz quando de novo ouvir sua voz ao vivo, ela juntinho dele. Quando isso não acontece parece que sua alma fica vagando à procura dela, voando sem destino, perdida.
• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”