“O conde”

Evaldo Gouveia e Jair Marinho são parceiros em muitas músicas que fizeram sucesso no Brasil. Em 1969 surgiu “O conde”, que narra a história de um sambista que ao retornar do desfile da sua escola preferida “Portela”, encontra vestígios da reação de sua namorada indignada por ter sido trocada pelo carnaval.

“Encontrei hoje cedo no meu barracão/Minha roupa de conde no chão/Fantasia de plumas azuis a rolar/E achei em pedaços bem junto à janela/O meu pinho quebrado por ela/Tal e qual sucedeu na canção popular”. O “eu lírico” conta que ao chegar em casa deparou-se com um quadro de destruição, provocado pela fúria da companheira revoltada por ter sido abandonada, quando ele optou por desfilar na sua escola de samba ao invés de ficar com ela. Sua fantasia de conde destruída e jogada ao chão. O seu violão quebrado, em pedaços, conforme ocorrido na canção popular.

“Bem que eu quis atrás dela sair e brigar/Mas depois me lembrei que é melhor/Ela ir de uma vez e eu ficar”. A primeira reação, no instante da raiva, foi de ir tomar satisfações. Entretanto, depois,  de cabeça fria, entendeu que era melhor deixar que ela fosse embora. Não haveria mais clima para continuarem e por isso mesmo seria mais prudente evitar uma briga inconsequente.

“E além do mais/Sambista até morrer eu sou/E onde a minha escola for eu vou/Amor a gente perde a gente tem/Amor que vem”. A sua paixão pela escola de samba supera qualquer outro sentimento. Nada pode ser prioritário em relação ao seu desejo de participar do desfile da Portela. E será assim até morrer. Sabe que amores se findam e outros renascem. A condição de substituição na vida amorosa é perfeitamente aceitável, menos a de trocar a sua dedicação à escola de samba da sua predileção.

“Como é que eu posso por ela trocar/A emoção de ver Vilma dançar/Com o seu estandarte na mão/E ouvir todo o povo, meu povo aplaudir/Minha escola a evoluir/Minha ala comigo passar”. A passarela do samba é o seu mundo exclusivo no desfile de carnaval. Nada supera a emoção de se deslumbrar com a exuberância na apresentação da porta estandarte Vilma, e de se deleitar com a aclamação em aplausos à evolução de sua escola de samba. O prazer de sentir a ovação popular, quando da passagem pela avenida da ala que integra, é uma sensação única, inigualável.

“Bem melhor do que ela/É sair na Portela/E um samba de enredo/No asfalto cantar”. Finaliza manifestando que, apesar dos estragos que presenciou em casa, a fantasia rasgada e o pinho quebrado, é muito melhor sair cantando o enredo de sua escola no asfalto do que o compromisso de estar com ela num momento como esse. Não lamenta a troca feita.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 

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