“Apenas mais uma de amor”

Todo brasileiro que aprecia a boa música reconhece em Lulu Santos um dos seus grandes compositores. Ele sabe cantar a alma nacional, com suas emoções e sentimentos. Na música “Apenas mais uma de amor” ele dá força á manifestação de um amor que se coloca como irrealizável, o que se chama “amor platônico”.

“Eu gosto de tanto de você/Que até prefiro esconder/Deixo assim ficar/Subentendido”. É assim o amor platônico, aquele que não se declara e que prefere ser vivenciado em silêncio, onde só um usufrui do prazer de gostar de outro. O “eu lírico” se pronuncia tão apaixonado que tem receio de proclamar seus sentimentos. Talvez por timidez, talvez por insegurança, mas prefere não deixar transparente o que seu coração está sentindo. Basta deixar “subentendido”, na esperança de que a amada perceba sem que ele expresse.

“Como uma ideia que existe na cabeça/E não tem a menor pretensão de acontecer”. Definiu esse amor como propósito, como sonho, como fantasia, mas sabe que dificilmente poderá acontecer. Coisa da imaginação, do desejo, de um querer construído no pensamento. Nem alimenta a expectativa de sua realização.

“Eu acho tão bonito isso/De ser abstrato, baby/A beleza é mesmo tão fugaz”. O encanto está, segundo ele, na maneira, mesmo distante, de sentir vontade de estar com alguém que ama. E nisso está a beleza, até porque o conceito do que é belo é circunstancial e preponderantemente dependente do olhar de cada um.

“É uma ideia que existe na cabeça/E não tem a menor pretensão de acontecer”. Não há esperança de que os sonhos se realizem. Não há certeza de que seus desejos se concretizem. Isso é o que menos importa. O que potencializa o emocional no seu coração é a percepção de que está dominado por um sentimento de paixão. A correspondência não está condicionando a manutenção desse amor.

“Pode até parecer fraqueza/Pois que seja fraqueza então/A alegria que me dá/Isso vai sem eu dizer”. A inibição é muitas vezes confundida com fraqueza. O “eu lírico” não se incomoda com esse tipo de interpretação. Feliz está por se sentir bem, sem precisar deixar isso exposto de forma clara. Porque dizer o que sente se o coração está contente?

“Se amanhã não for nada disso/Caberá só a mim esquecer/O que eu ganho, o que eu perco/Ninguém precisa saber”. Quem vive um amor platônico não está pensando no amanhã. Se o futuro não vai ser da forma como sonha, não tem problema. Esse é um problema só dele, a ninguém deve satisfações. Se for vitorioso ou derrotado nos instantes da vida, não é da conta dos que vivem ao seu redor.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 

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