“Alma nova”

 

Na expressão poética do maranhense Zeca Baleiro, nessa canção composta em 2005, vemos a manifestação do conflito em que se ver envolvido o ser humano em determinados momentos. A sua alma de origem, pura, eterna, com sentimentos e desejos de elevação, se surpreende em diálogo e confronto com uma alma nova que quer se revelar, movida pelas motivações carnais, concupiscentes.

“Sempre que te vejo assim, linda, nua/e um pouco nervosa/minha velha alma cria alma nova/quer voar pela boca/quer sair por aí”. O deslumbramento da imagem da mulher amada,”linda e nua”, desperta a vontade de possuir aquele corpo. Ela, por sua vez, “nervosa”, transmite toda uma ansiedade de se entregar. Nesse instante começa o debate entre a “alma velha” e a “alma nova”, que teima em querer se mostrar, se evidenciar. Quer “voar pela boca”, sair da condição de espiritualidade para submeter-se aos prazeres do encontro de corpos.

“E eu digo, calma alma minha/calminha!/ainda não é hora de partir”. A razão procura dominar a situação e pede calma à sua verdadeira alma. Adverte que não pode se deixar levar pela emoção, lascívia, impulsos da sensualidade. Não é chegada a hora. Tudo tem seu momento de acontecer, porque é preciso que a alma velha seja movida por sentimentos sublimes para que no físico possa encontrar a alma que lhe fará amar verdadeiramente.

“Então ficamos, minha alma e eu/olhando o corpo teu/sem entender”. Todo conflito traz desentendimento, confusão no compreender o que está acontecendo, dúvidas, medo das conseqüências. Assim a “alma velha”, usando da capacidade física de olhar, contempla a beleza da mulher que lhe seduz, e se sente lutando entre o “querer” e o “dever fazer”.

“Eu bem que tento/tento entender/mas a minha alma não quer saber”. Esforça-se por não trair a sua própria consciência. A sua “alma velha” quer, a qualquer custo, se tornar a “alma nova”, despertada pela libido, de forma irresponsável, inconseqüente. Quer se desprender do sentido espiritual para se subjugar aos prazeres carnais.

“Só quer entrar em você/como tantas vezes/já me viu fazer”. Nem as experiências vividas contêm essa intencionalidade da “alma nova” voltar a se manifestar. Quer repetir o êxtase proporcionado pela volúpia da sexualidade.

“Como é que a alma entra nessa história/afinal o amor é tão carnal”. Será que o amor é realmente tão carnal? Os prazeres eróticos, impudicos, devassos, é que são carnais, e muitas vezes são confundidos com o “amor”. O envolvimento sentimental entre duas pessoas, com romantismo, tem a ver, sim, com o encontro de almas. Por isso a “alma velha” resiste tanto ao enlace que a visão da “mulher linda e nua” lhe insinua.

“E eu digo, calma alma minha/calminha!/você tem muito o que aprender”. Finaliza num conselho de admoestação, chamando a atenção para a necessidade de se reprimir diante dos convites tentadores da luxúria.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.
 

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