“Só hoje”

Essa música, composição de Rogério Flausino e Fernanda Mello, interpretada pela banda Jota Quest, narra um apelo aflito de alguém que quer reviver um grande amor. Nesse momento nostálgico vêm à tona todas as lembranças da rotina vivida enquanto casal, cujas imagens do passado permanecem fortes, provocando uma imensa saudade. Num dramático pedido, ao se sentir solitário ele pede, para amenizar a sua dor, que ela esteja ao seu lado pelo menos “hoje”, naquele instante, como se fosse um último prazer que esse amor ainda pudesse proporcionar.

“Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito/nem que seja só pra te levar pra casa/depois de um dia normal/olhar teus olhos de promessas fáceis”. O personagem da música vive o drama da constatação do amor perdido e a intensidade das recordações dos gestos cotidianos que viveram juntos. Realça uma vontade louca de reencontrá-la a qualquer custo, nem que seja só para acompanhá-la até sua casa, ao fim de um dia comum, e reviver no olhar dela as promessas que um dia lhe foram feitas com tanta facilidade. Perde o orgulho próprio e apela.

“E te beijar a boca de um jeito que te faça rir/hoje eu preciso te abraçar/sentir teu cheiro de roupa limpa/para esquecer os meus anseios e dormir em paz”. A necessidade de repetir beijos e abraços, que marcaram o relacionamento, torna-se algo extremamente necessário, naquele momento, para que possa viver em paz. Não conseguirá sequer dormir se isso não acontecer. Quer tê-la em seus braços novamente, sentir seu cheiro inesquecível, e assim poder esquecer eventualmente todos os anseios que estão lhe torturando.

“Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua/qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria/em estar vivo”. Para que a vida volte a ter sentido ele deseja ouvir qualquer palavra dela, algo que faça com que sinta que está vivo. A angústia dessa sensação de perda é como se provocasse nele a impressão de já está morto, seu coração pulsando apenas em função desse amor que se foi.

“Hoje eu preciso tomar um café ouvindo você suspirar/e dizendo que sou o causador da sua insônia/que eu faço tudo errado, sempre, sempre”. Delira e até chega a relembrar com saudades de algumas brigas acontecidas. Vêm à memória reclamações de que ele a fazia perder o sono quando a contrariava. Lastima-se, agora, das coisas erradas que repetidamente chegou a fazer e que, certamente, deram causa ao seu afastamento.

“Hoje preciso de você com qualquer humor/com qualquer sorriso/hoje só tua presença vai me deixar feliz/só hoje”. No auge do seu desespero aceita que ela esteja com ele, mesmo sem sorrir, mesmo chorando, mesmo com raiva, mesmo ressentida, mas que se faça presente naquele momento ao seu lado. Quando os autores colocam o “só hoje”, dá a entender, que o personagem quer que ela compreenda que no “hoje”, no “agora”, a sua ausência é insuportável. Nem precisa se comprometer com o amanhã, o importante é preencher naquela hora, esse vazio que o entristece e o deixa abatido, sem vontade de viver.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 

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