Na época da Inquisição, era comum vestir nos condenados uma espécie de capuz por ocasião de seus julgamentos. A “carapuça”, um chapéu longo e pontiagudo, sempre posto sobre a cabeça indicando o “assumir a culpa”. Na linguagem popular o termo passou a ser usado quando alguém resolve tomar para si a alusão ou crítica dirigida a esmo.
Observações feitas sem direcionamento, mas que levam a motivos de especulações, exercícios de suposições, curiosidades e indagações sobre o quê e a quem estão sendo dirigidas as referências. Mesmo sem ter o dedo indicador apontado para alguma direção ou para alguém, é normal que se procure reconhecer a origem e o destinatário dentro de qualquer comentário que se marque falhas ou advertências. Nessa busca muitas vezes, se comete injustiças, porém noutras a identificação é tão óbvia que não há necessidade de dar nomes “aos bois”. Ainda assim, fica um fio da dúvida para os alvos da afirmação. Qualquer acusação é mera conjectura.
No decorrer das minhas publicações sobre “Sabedoria Popular”, onde convido os leitores a uma reflexão sobre expressões, ditados e provérbios, tornou-se lugar comum ser interpelado em alguns textos, que me chegam repletos de interrogações, sobre a quem e para qual endereço foram enviados. Não posso negar que, em várias oportunidades, a interpretação da manifestação do povo me faz reconhecer personagens perfeitamente ajustadas ao que se expressa. No entanto, não é o objetivo desse projeto servir-se de tribunal acusatório, nem fórum de censura, repreensão ou julgamento moral de quem quer que seja. Todavia, diante do exposto, lembro que vivemos num mundo do livre “pensar”. Se alguém vir a se incomodar com o teor das publicações e/ou se colocar no perfil da análise relativa ao ditado ou provérbio digo-lhes, assim como diria o finado “Odorico Paraguaçu” – “é justo, justíssimo!” fica declarada sua culpa no cartório. Eis aí o verdadeiro exemplo de “vestir a carapuça”.
E caso isto estiver acontecendo acho ótimo. Assim, quem sabe, aquele que se viu no espelho da reflexão, busque redefinir suas posturas, seu comportamento, seu modo de agir, pensar e olhar de forma que não se veja mais como alvo de críticas ou de reprimendas.
* Integra a coletânea de textos que intitulei “REFLETINDO A SABEDORIA POPULAR (ditados, expressões e provérbios)”.
