Certa vez o poeta lusitano Manuel du Bocage recebeu de um aspirante a escritor um poema para sua avaliação. Pedia que cada erro fosse marcado com uma cruzinha. Recebeu de volta o texto apresentado sem qualquer marca de cruz. Indagando do por que da inexistência de correções a serem sugeridas, teve como resposta: “a emenda ficaria pior do que o soneto”.
Com o passar dos tempos essa expressão passou a ser usada para apontar uma tentativa desastrada de consertar um mau procedimento, uma justificativa mal apresentada ou uma explicação não convincente. Todas levam à percepção de que não há como defender o indefensável. No entendimento geral o conserto sempre sai pior do que a situação original.
O uso de mentiras para encobrir uma verdade óbvia termina por provocar mais embaraços. O melhor é deixar quieto porque “quanto mais se mexe, mais fede”. A única forma de remediar o erro é assumir o que foi feito buscando corrigir sem mentiras, sem acusar outros, sem tentar “remendar” o que é claro e evidente.
Nesses episódios é comum o indivíduo, flagrado na ação de uma falha ou ilicitude, perder as rédeas do bom senso e usar da retórica para confundir, dando a impressão de que as acusações são inverídicas.
As desculpas mal elaboradas transformam-se em mero exercício de desfaçatez. A “enrolação” intentada torna-se evidente e expõe a críticas seu promotor. Com a credibilidade maculada, por conta, da “emenda” mal concebida afirma-se cada vez mais o conceito de suspeição.
E como se não bastasse, tem gente que acredita na própria mentira e imagina que, como ator, consegue convencer a plateia, de que o seu caráter, sua postura ética e a sua honestidade estão acima de qualquer suspeita. Insistentes propagadores das suas próprias virtudes usam desse “marketing” para revidar ataques à sua imagem.
Enfim, novamente a sabedoria popular nos oferece ensinamento importantíssimo ao estabelecer que as defesas devam ser sempre bem fundamentadas e com fortes manifestações de veracidade por que, do contrário, não há como fugir da aplicação do provérbio “a emenda saiu pior do que o soneto”.
• Integra a coletânea de textos que intitulei “REFLETINDO A SABEDORIA POPULAR (ditados, expressões e provérbios)”.
