O ser humano é guiado por sentimentos. São manifestações emocionais que determinam comportamentos e permitem percebermos situações em que nos deparamos no dia a dia. Se algo nos atinge, de alguma maneira, a primeira reação é no pulsar do coração. Ele se agita conforme o impacto da informação recebida ou do momento vivenciado. Alegria ou tristeza, satisfação ou decepção, surpresa, curiosidade desfeita, constatação de uma realidade de difícil aceitação, são conhecimentos que ao adquirirmos se refletem no estado de espírito. Reagimos conforme a nossa capacidade de percepção do quadro. Daí se dizer popularmente que o “coração sente”, porque este vital órgão do nosso corpo é o primeiro a se manifestar diante de uma informação surpreendente.
Por isso mesmo é normal que muita gente fuja da percepção da realidade. Prefere não tomar conhecimento de determinados fatos para que não sofra com eles. Uma atitude de conformação e de negação do que se apresenta como verdadeiro.
A opção é não procurar enxergar o que está ao alcance dos seus olhos. Uns por falta de coragem de enfrentar situações que exigiriam reações que não deseja adotar, outros por pura ausência da vontade de constatar fatos que desconfia existirem, mas que julga melhor desconhece-los. Torna-se conveniente não ver o que está acontecendo ao seu redor.
Na sabedoria popular isso se aplica com maior freqüência nos relacionamentos amorosos, mas esse ditado popular se verifica no cotidiano em relação também à nossa capacidade de integração com o mundo. Via de regra, por nos considerarmos impotentes para combater ou reprimir determinadas situações desagradáveis, recuamos, nos escondemos, para que não sejamos obrigados a visualizar aquilo que não queremos. Então perdemos o senso crítico das coisas e nos tornamos omissos e alienados.
“O que os olhos não vêem, o coração não sente” é uma expressão da verdade, mas é um sintoma de covardia e de acomodação. Qualquer que seja o sentimento que o coração desperte com a visão dos olhos, no seu sentido figurado, deve ser encarado com firmeza, até porque nada fica eternamente desconhecido. Pode se dizer também que, mesmo não querendo ver, basta a suspeição do que possa ser visto para que surjam sentimentos de aflição, ansiedade, medo, e assim “o coração sente, ainda que os olhos não estejam vendo”.
*Integra a coletânea de textos que intitulei “REFLETINDO A SABEDORIA POPULAR (ditados e provérbios)
