No mês de março de 2013, a inflação brasileira dos últimos 12 meses foi de 6,59%, ultrapassando o máximo da meta anual, que é de 6,5%. Alguns economistas parecem ver nesse fato o início do caos econômico nacional. Aí estaria a síntese da exaustão do modelo baseado na grande participação do Estado na economia e no incentivo exagerado ao consumo.
Desde o ano de 2006, essa meta de inflação, cujo piso é 2,5%, a média 4,5% e o limite superior 6,5%, vem sendo anunciada pelo Governo e aceita pelo sistema econômico e monetário-financeiro. Não há porque exigir que a taxa de inflação definida num intervalo estatístico tenha que se efetivar matematicamente no centro da meta. É inegável, porém, que inflação quanto menor melhor.
Não é difícil trazer a inflação para a meta, até porque as suas principais determinações atuais são monetárias e, portanto, muito sensíveis à elevação da taxa de juros. O Banco Central já aumentou a taxa básica anual de juros de 7,25% para 7,5%. A tendência é que essa taxa continue crescendo, convergindo para 8,75%, no próximo mês de dezembro. Com essa política de juros, a inflação deverá chegar ao final do ano com uma taxa em torno de 5,5%.
Critica-se muito o baixo crescimento da economia brasileira, que foi de 2,7% em 2011 e 0,9% em 2012. Diz-se que o Brasil pode ser uma ilha de alta prosperidade num mundo econômico em profunda crise. Nesses dois anos, a economia mundial cresceu 2,7% e 2,3% e a dos Estados Unidos 1,8% e 2,2%. Esse desempenho do Brasil se deu sobre fundamentos econômicos mais sólidos: dívida pública bruta/PIB de 59%, déficit público/PIB de 2,6% e déficit do balanço de pagamentos/PIB de 2,9%. Para a economia dos Estados Unidos, esses índices foram de, respectivamente, 110%, 6,5% e 3,5%.
O modelo de desenvolvimento do Brasil, há pelo menos 10 anos, vem dando especial atenção à inclusão social e à transferência direta de renda aos mais pobres. Isto fez entrar nos mercados de bens e serviços mais de 40 milhões de pessoas com uma alta propensão a consumir. Além disso, nos últimos anos, a política de juros baixos e crédito farto e fácil desestimulou muito a poupança. Com esse modelo, a economia brasileira deu mais ênfase ao consumo do que ao investimento.
Desse modo, o Brasil passou a ter uma economia cuja capacidade instalada de produção não se expande em grande proporção. A sua formação bruta de capital fixo, que gera essa capacidade produtiva, tem sido em torno de 18% do PIB. Com essa taxa bruta de investimentos é impossível o PIB brasileiro crescer a altas taxas anuais. Com base nessas forças propulsoras, o crescimento da economia brasileira a 4% ao ano tende a gerar pressões inflacionárias, sobretudo pelas políticas monetário-financeiras fomentadoras do consumo.
O problema econômico maior do Brasil se resolve com a elevação da sua taxa de formação bruta de capital fixo para 22% do PIB. Isto requer a coordenação de políticas governamentais eficientes e complementares de investimentos públicos e privados na infraestrutura e nas atividades dos setores primário, secundário e terciário. Assim, o PIB poderá ter um crescimento sustentável de até 5% ao ano, com a inflação tendendo ao centro da meta de 4,5%. Nesse cenário, a inflação baixa melhorará a distribuição de renda e o maior crescimento econômico gerará os empregos para a tão necessária inclusão social produtiva.
