{arquivo}Definitivamente, também no Carnaval, é visível a soberania da exposição midiática do desfile das Escolas de Samba e seus cada vez mais luxuosos conceitos de apresentação na Marques da Sapucaí, há anos deixando a malandragem carioca de lado para dar vez à supremacia do Capital que transformou tudo em grande espetáculo destinado a Turista. Basta acompanhar minimamente a cobertura da Rede Globo, maior emissora de TV do País, para atestar a hierarquia do que o Rio considera mais rentável e prioritário na exposição para o Mundo.
A estratégia da Rede Globo é visível demais na escolha do seu repertório à lá samba extensivo de uns anos para cá até São Paulo, onde a periferia tal qual do Rio consolidou novas gerações de sambistas daí a necessidade estrutural e mercadológica de construir um Sambódromo nos moldes do Rio para expor também luxo visando satisfazer o mercado (vide turistas) em nome da alegria das comunidades que se empolgam com a visibilidade de seus feitos na avenida.
Dito isto, está mais do que evidente que o Brasil da Rede Globo está distante de ser o País de Recife/Olinda ou de Salvador que, dentro de outros contextos estéticos e de negócios, promovem um Carnaval extraordinário, de grande participação popular a envolver vultosas quantidades financeiras, mas estes são Carnavais que a cobertura globistica termina por impingir a condição de secundários, depois da cobertura da Sapucai.
Aqui, nesta leitura intelectual de mercado, não há nenhum sentimento bairrista ou separatista numa escala mais radical. Compreende-se dentro de uma visão extremamente mercadológica o significado do Poderia econômico que o Rio e São Paulo produzem na relação com os demais Estados e situações, por isso quem tem mais grana, portanto poder político conjuntural, dita as normas diante de quem pode até ser grande, mas em escala econômica menor acaba em segundo plano.
A rigor, a Globo não dá sequer dimensão devida ao carnaval mais democrático do próprio Rio nos bairros, hoje com ações punitivas para impedir a saída de centenas de blocos, em face da pouca estrutura do aparato policial para garantir segurança aos foliões porque a industria cultural para fora do RJ vende melhor o enquadramento estético e luxuoso da Marques de Sapucai – espécie de Hollywood carnavalesco do Brasil.
{arquivo}É esta realidade que, muito tênue ainda, vem sendo quebrada pela BAND na cobertura do Carnaval ao priorizar nas noites de carnaval a exposição do que acontece em Salvador, Recife e Olinda, sobretudo, com lances de expansão, a exemplo do ocorrido na cobertura da semana prévia de carnaval de João Pessoa, no chamado projeto Folia de Rua.
Com toda a importância da estratégia, indaga-se por que as outras Redes não investem no carnaval enquanto trato mercadológico para fazer com que o Brasil tenha a exposição do tríduo momesco, não só pelo predomínio do Rio.
Há anos que o Brasil precisa dispor de uma estrutura de TV qualificada a partir de outros ambientes geográficos, especialmente o Nordeste por ter sido o lugar onde toda a descoberta do País se efetivou e, nos últimos tempos, em face de seu desenvolvimento econômico está a exigir uma base midiática grande, forte, para acabar de vez com essa dependência do Rio/São Paulo no campo mercadológico porque já temos vida e condições de sobrevivência sem essa hierarquia da indústria cultural.
Algum tempo atrás, o grupo Verde Mares – de Fortaleza, pensou fortemente nesta perspectiva até criando o Diário do Nordeste, jornal impresso que gerou recentemente a TV Diário, em TV a cabo, mas a NET, da Rede Globo, resolveu tirar a sua pujança e crescimento impedindo a exposição maior.
João Carlos Paes Mendonça é outro empresário visionário vitorioso que poderia encampar esta necessidade que um dia inevitavelmente será fundamental existir, só que por ter aderido ao mercado de Shoppings tal condição estratégica de Midia não tem a prioridade de seus negócios.{arquivo}
Seja como for, é inexorável admitir que o Carnaval do Nordeste não pode ficar a reboque dos desejos e das imposições secularmente adotadas a partir do Sudeste.
Quem vai assumir esta bandeira?
ÚLTIMA
” A nossa vida é um carnaval/
a gente brinca escondendo a dor…”
