Surpreendidos com a edição do AI 5 vinte e quatro horas após a Câmara Federal, por maioria de votos, ter rejeitado o pedido para processar Márcio Moreira Alves, alguns parlamentares se sentiram encorajados a solicitarem do presidente José Bonifácio a convocação imediata de uma sessão extraordinária. O deputado Martins Rodrigues, secretário geral do MDB , em reunião realizada na manhã do dia quatorze, tentou convencer José Bonifácio: “O senhor é o presidente da Câmara e pode convoca-la a qualquer momento. É o seu dever.” Recebeu como resposta a afirmação de que “não existia mais Câmara”. Inconformado, Martins Rodrigues reagiu: “Seja mais Bonifácio e menos Zezinho”.
O senador Daniel Krieger, presidente nacional da ARENA, que não esteve em Brasilia no dia da votação, pois desgostoso com o rumo dos acontecimentos teria viajado na véspera para sua residência de campo nas proximidades de Porto Alegre, acompanhou a votação pelo rádio e por telefonemas. Ao tomar conhecimento do resultado decidiu viajar para o Rio de Janeiro imediatamente e já no dia seguinte reunia-se no Palácio Monroe com vários senadores, entre os quais Peri Pinto, Ney Braga, Dinarte Mariz e o paraibano Ruy Carneiro, quando discutiram a conjuntura política e as consequências do AI 5 e Atos Complementares.
Ainda sonhavam com a possibilidade de alguma reversão do quadro.
A nação, no entanto, vivia a expectativa do que poderia acontecer no desdobramento das medidas de exceção a serem implementadas com a concentração de poder nas mãos do Presidente da República. A população, em razão da forte censura imposta aos veículos de comunicação, não tinha conhecimento do que ocorria nos bastidores do governo, nem nos porões da ditadura. Só se colocava para conhecimento público aquilo que interessava aos ditadores. Mas havia muita especulação.
Além das prisões que estavam acontecendo em todo o Brasil, corriam boatos sobre as cassações de mandatos que estariam por vir. O governador João Agripino chegou a ter forte desentendimento com o Ministro da Justiça, Gama e Silva, em face da ameaça de cassação de politicos com mandatos e até ministros do STF. Irritou-se ainda mais quando tomou conhecimento de que o deputado Pedro Gondim estaria na relação dos primeiros parlamentares a serem cassados. Pediu audiência ao presidente Costa e Silva para pessoalmente tratar do assunto. O presidente teria dito ao governador que Pedro Gondim era inimigo da Revolução, pois teria testemunhado, quando Comandante do IV Exército, um discurso do deputado paraibano, pronunciado num comicio na Lagoa, atacando os militares que estavam no poder. O presidente, portanto, não levou em consideração a defesa do governador em favor do seu conterrâneo. Tinha posição firmada a respeito.
Pedro Gondim seria cassado em fevereiro do ano seguinte. O interessante é que na véspera de sua cassação teria recebido do Ministro Lyra Tavares a garantia de que não perderia seu mandato. O ministro, no dia seis de fevereiro, em encontro pessoal com o parlamentar afirmou: “Desde a infância sempre fui amigo do seu pai. Gostava muito dele. Não se importe com os rumores. Deixe os boatos circularem. Volte para a Paraiba. Eu lhe asseguro que nada acontecerá. Se o senhor tiver que ser cassado, tambem eu serei”. No outro dia, já em João Pessoa, Pedro Gondim recebia a notícia da cassação do seu mandato de deputado federal. Ou o ministro paraibano não teve prestígio para cunprir o que prometera, ou não conseguiu convencer o presidente Costa e Silva a desistir da sua decisão em relação ao seu conterrâneo.
* esse texto faaz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
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