Ronaldo e o sacerdócio

 Ouvi no programa eleitoral de um candidato a prefeito que ele ” fazia da política um sacerdócio, não um balcão de negócio”. A frase foi citada sem atribuir a autoria ao poeta Ronaldo Cunha Lima, que nos deixou recentemente. O plágio e a falta de ética me incomodaram. O fato me fez lembrar que devia aos poucos leitores meu depoimento sobre a convivência com o poeta. Havia sem duvida uma afinidade entre nós, explicitada certa feita pelo filho Cássio: o seu estilo se aproxima mais de Ronaldo que de mim..

Quando prefeito de Campina e nas suas vindas à Capital, era eu um dos seus companheiros de tertúlias poéticas e noitadas intermináveis no Elite Bar. Seu cunhado Ernani Moura era meu vizinho e de repente, entravam os dois pelo meu terraço:

– Ramalhinho, vamos cumprir nossas obrigações alcoólicas…Era o poeta me apressando, pois, na praia, já nos aguardavam Jório Machado, Edvaldo Motta e Orlando Almeida.

Como sempre, o papo era mil vezes superior às doses ingeridas. O encontro valia pela conversa, a revisão política dos fatos e os projetos futuros que todos nós haveríamos de nos engajar. Fui com Humberto Lucena e estive presente à famosa reunião no quarto de Raymundo Asfóra, quando o jovem Cássio transmitiu a decisão de Ronaldo de permanecer até o final do seu mandato, prefeito de Campina. Foi o Dia do Fico de Ronaldo e do nascimento de Raymundo Lira, que tomaria seu lugar na chapa de Senador.

No segundo turno da sua eleição para Governador, comemorava o meu aniversário quando entra Ronaldo e sua alegria, Ernany à tira colo. Já foi recebido com as suas musicas de campanha Ajudei-o na vitória em todos os municípios onde tinha influencia. O destino nos afastou por um tempo.Nos reencontramos e reatamos a velha e adormecida afeição. Tive o prazer de contribuir para a sua eleição de deputado federal, a ultima que disputaria, para completar todos os diplomas que a justiça eleitoral pode conceder ao cidadão,no seu Estado.

Sem dúvida que a política para Ronaldo era um sacerdócio. Para ele, valia muito mais as amizades do que os votos. Milhares não votavam nele, mas lhe devotavam sentimento de admiração e apreço. Esse sacerdócio, exercício de poucos políticos neste País patrimonialista, deve ter tornado Ronaldo um homem rico de afeto, porém, sem bens a transmitir. Está entre os poucos políticos que não têm inventário a fazer. Quando muito, seus bens merecem um arrolamento.

Para Ronaldo Cunha Lima, o “faço política como sacerdócio e não como balcão de negócio”, não era apenas uma rima, mas um mandamento da vida pública.

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