Concluida a reunião do Conselho de Segurança Nacional, começaram os preparativos para o anúncio oficial daquele que viria a ser o mais duro golpe do regime militar, o Ato Institucional número 5.
Caberia ao Ministo da Justiça, Gama e Silva, até por ter sido o seu principal idealizador e, segundo muitos historiadores, seu redator, a responsabilidade de fazer a comunicação das medidas ao povo brasileiro.
Como a reunião do CSN era uma encenação, sabendo, portanto, que a decisão estava tomada mesmo antes do seu início, as providências para a solenidade do anúncio já estavam sendo adotadas durante a sua realização. Augusto Cúri, locutor oficial da Voz do Brasil, às dezessete horas, recebia em sua residência, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a visita de emissário do presidente da República que o convocava a comparecer imediatamente ao Palácio das Laranjeiras.
Quando chegou ao Palácio a reunião ainda estava se realizando. Jantou e aguardou que fosse chamado. Eram 21:45 horas quando foi encaminhado ao andar superior para um encontro com o presidente. Era a primeira vez que se encontrava pessoalmente com Costa e Silva. Após os cumprimentos formais, recebeu um documento datilografado em dezoito laudas, com tipologia maior do que o normal, contendo os termos da comunicação que leria naquela noite, numa edição extraordinária da Voz do Brasil. “Gostaria de lê-lo antes, senhor presidente, para me preparar”, solicitou. Costa e Silva respondeu: “Não, senhor. Não temos tempo. As Câmeras de tv e os microfones das rádios já estão a postos, vamos entrar ao vivo em cadeia nacional”.
No salão Nobre do Palácio das Laranjeiras o cenário estava preparado. Sentando-se ao lado do Ministro Gama e Silva, Alberto Cúri se posicionou para fazer a leitura do documento que oficializaria a ditadura no Brasil.
Exatamente às vinte e duas horas o Ministro faz sua saudação aos ouvintes e tele-expectadores e afirma:” É necessidade imperiosa na defesa dos interesses superiores da Nação e do povo brasileiro, adotar as medidas que nesta oportunidade daremos a conhecer, na verdade de caráter execpcional, mas que têm por finalidade cumprir o dever a que nos impusemos como elementos da Revolução de 31 de Março de 1964″. Falou por cinco minutos e passou a palavra a Alberto Curi, que passou a ler o texto do AI-5 na íntegra e o Ato Complementar n. 38.
Naquele instante o Brasil era impactado pela informação de que a partir de então estariam concentrados nas mãos do governo poderes quase que absolutos por tempo indeterminado. O Congresso seria fechado, os mandatos de senadores, deputados e vereadores entrariam em recesso, estava autorizada a intervenção nos estados e nos municípios, passaria a ser legal legislar por decretos-leis, permitiria-se ao presidente da República decretar estado de sítio e prorroga-lo se julgasse necessário, não mais seriam permitidas reuniões de cunho político, a imprensa, o teatro, a música e o cinema estariam submetidos a rigoroso sistema de censura prévia e suspenso o habeas corpus para crimes politicos. O regime militar tirava a máscara e assumia sua postura ditatorial. Iniciava-se a mais negra página da nossa história politica.
Alberto Cúri, em entrevista concedida à revista Época, um mês antes de morrer, aos setenta e dois anos, relatou seu sentimento naquele momento histórico em que era protagonista por obrigação de ofício: “Enquanto lia, tomava conhecimento das medidas – no início quando estava nos “considerando”, achei normal, sereno. Quando começei a ler o ato propriamente dito, com os “decido”, é que me dei conta do que anunciava. Mas não podia gaguejar. Ali eu era apenas uma voz com salário mensal de trezentos cruzeiros. O dono da voz era o presidente da República”.
Às 22:30 horas estava encerrada a comunicação. A escuridão dessa noite durou praticamente dez anos. O AI-5 produziria seus males ao povo brasileiro até 1978, quando o presidente Ernesto Geisel decidiu pela sua revogação.
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