No momento em que acontecia a votação do processo de Márcio Moreira Alves, o presidente Costa e Silva viajava de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro. Segundo conta o general Jayme Portela, ministro chefe do gabinete militar da presidência, no seu livro “A Revolução e o Governo Costa e Silva”, publicado anos depois, o presidente teria rabiscado no avião um esboço do Ato Institucional que pretendia editar na hipótese de derrota na Câmara.
Ao se deslocar do aeroporto do Galeão para o Palácio das Laranjeiras, a bordo da limusine oficial do governo, Costa e Silva tomou conhecimento pelo rádio do resultado da votação que rejeitava a concessão da licença para processar o deputado Márcio Moreira Alves.
Recolheu-se aos seus aposentos no Palácio. O general Portela lhe comunicou de que havia uma grande insatisfação entre os generais, que desejavam uma imadiata reação do governo ante a decisão da Câmara, informação confirmada as dezessete horas pelo Ministro do Exercito, o paraibano Lyra Tavares, e o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Orlando Geisel. O presidente afirmou que “hoje, nada irei decidir, mas amanhã darei a minha decisão”.
Costa e Silva deu ordens epressas para não receber mais ninguem naquela noite. O Ministro da Justiça, Gama e Silva, ainda tentou invadir os aposentos do presidente, alegando que precisava “salvar a Revolução”. Portela ao impedir a sua entrada no ambiente em que o presidente se encontrava, provocou o ministro: “Olha Gama, você vive alardeando que tem um ato dentro de sua pasta. Sei que é blefe. Vá para o hotel, retoque o que houver escrito, porque amanhã poderá ser útil na reunião a ser convocada”.
Ás dez e meia da noite o comandante do I Exército, Sizeno Sarmento, vindo de Brasília, tentou também ser recebido com vários oficiais que se encontravam aglomerados no Galeão. O general Portela, por telefone, teria dito: “Olha, velho. Guerra é guerra. Vamos acordar o Tio Velho”. Esse era o codinome usado por Costa e Silva durante o golpe de 1964. O presidente manteve-se irredutível na sua decisão de não receber ninguem, afirmando que “não ia receber após as vinte e duas horas, em sua casa, oficiais fardados”.
A intensa movimentação da cúpula militar já não deixava dúvidas, portanto, de que as próximas seriam de endurecimento do jogo politico.
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