Na quinta feira, dia vinte e quatro de outubro, após a fracassada tentativa de realizar uma grande passeata na véspera, os estudantes se reuniram pela manhã na FAFI para em assembléia discutirem os novos rumos do movimento. No entanto, logo que iniciaram os debates, a faculdade foi ocupada por agentes da Polícia Federal, o que motivou o deslocamento em grupo para o Restaurante Universitário, na Lagoa, onde voltaram a se concentrar.
Enquanto isso, nos bairros da cidade realizaram vários comícios relâmpagos, com discursos direcionados principalmente às mães de família, esclarecendo o porque da luta estudantil e solicitando solidariedade e compreensão.
No Restaurante Universitário decidiram dar continuidade às manifestações de protesto, mesmo com a forte repressão policial.
No Liceu, apesar das aulas nao terem sido suspensas, as lideranças secundaristas sairam convencendo seus colegas a se retirarem das salas e irem ao encontro dos universitários na Lagoa.
A tarde, no Ponto de Cem Réis, as lideranças se alternavam em pronunciamentos, variando também de locais, improvisando palanques, tentando confundir os policiais. Por volta das dezessete horas, um grupo de estudantes incendiou um veículo pertencente à Delegacia do Ministério da Agricultura que estava estacionado em frente ao Paraiba Palace Hotel. Imediatamente o local foi ocupado por bombeiros que debelavam o incêncio e policiais que agiram com violência objetivando dispersar os manifestantes.
Na Praça João Pessoa registrou-se um incidente grave. Os policiais em perseguição aos estudantes que se encontravam no Ponto de Cem Réis, tentaram invadir o Palácio da Justiça alegando que alí estariam refugiados alguns deles. Chegaram às escadarias do Tribunal armados de cassetetes e fuzis, no momento em que se encerrava o expediente do poder judiciário, e saiam do prédio os funcionários, advogados, oficiais de justiça e magistrados.
Foi necessária a pronta e enérgica intervenção do Juiz Corregedor, Dr. Almir Fonseca, que usando de sua autoridade exigiu dos policais repeito, não somente à Justiça, mas à pessoa humana. Um dos servidores, José Manoel da Silva, de 24 anos, teve seu braço quebrado por espancamento a cassetete.
O fato foi comunicado ao presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Onesipo Aurélio Novais, que, por sua vez, tratou pessoalmente da questão com o governador João Agripino, de quem pediu as providências cabíveis.
Nas imediações dos quartéis do 15 Regimento de Infantaria, em Cruz das Armas e do Grupamento de Engenharia, na Epitácio Pessoa, o tráfego de veículos foi interrompido com forte aparato policial. Ali ocorreu outro incidente lamentável. O deputado federal Wilson Braga, desconhecendo a decisão de interdição da avenida, quando dirigia-se a Tambaú, pela Avenida Epitácio Pessoa, dirigindo seu carro, foi alertado aos gritos pelos policiais e teve que frear bruscamente provocando uma colisão com outro veículo que danificou a parte traseira do seu automóvel. O parlamentar foi grosseiramente abordado pelos policiais e ameaçado de agressões.
A noite, quando já se imaginava que tudo havia se acalmado e o policiamento ostensivo já tinha sido recolhido aos quartel da PM, um grupo de aproximadamente trinta estudantes resolveu realizar um comício relâmpago na Praça Vidal de Negreiros. Uma guarnição da Rádio Patrulha, que fazia ronda no local, aproximou-se para verificar o ocorrido. Os estudantes numa atitude de incrível ousadia e coragem tentaram desarmar os soldados, acontecendo daí vários disparos para o alto, culminando com a prisão do líder da manifestação, o estudante mineiro Euripedes Valdici, de 23 anos.
* esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
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