Mesmo procurado pela Polícia Federal para cumprimento da prisão preventiva decretada pela Auditoria Militar de Pernambuco, o líder estudantil José Ferreira da Silva, ex-presidente do DCE e dirigente eleito do Diretório Acadêmico da Faculdade de Economia da UFPB, continuou circulando nos ambientes do movimento estudantil, sempre contando com o apoio estratégico de outras lideranças de forma a protegê-lo do cerco montado para sua captura.
Por ocasião da eleição de renovação dos diretórios, na condição de candidato a presidente, compareceu à Faculdade de Economia e votou. No mesmo dia, a noite, na FAFI – Faculdade de Filosofia, transmitiu o cargo de presidente do DCE e participou da escolha dos demais diretores daquela entidade.
Posteriormente compareceu à Cidade Universitária da UFPB para empossar-se na presidência do Diretório da FACE. Driblou a vigilância da Polícia Federal que o aguardava na FAFI ou na própria Faculdade de Economia.
Sua última presença em locais públicos, na condição de foragido da justiça, foi no dia treze de setembro na Faculdade de Direito, onde se reuniu com lideranças daquela escola e concedeu entrevista à imprensa, prestando à opinião pública esclarecimentos que julgava importantes.
Começou afirmando que “estas minhas aparições não são uma atitude de afronta à Polícia Federal. Mas é que eu não posso me afastar de algumas tarefas necessárias ao movimento estudantil, e o jeito é aparecer, mesmo me arriscando a ser preso de uma hora para outra”.
Em relação a insinuações de que teria feito um acordo de cavalheiros com a Polícia Federal, que se comprometeria a não prende-lo e ele se obrigaria a se afastar da liderança efetiva do movimento, foi enfático ao declarar: “jamais isso foi cogitado, mesmo porque quase que diariamente os agentes da Polícia Federal têm feito batidas em locais onde supõem eu esteja homiziado. De certa feita quase arrombaram a porta do quarto que ocupei na Casa Universitária. O movimento estudantil de protesto na Paraíba não morreu, e está mais vivo do que nunca”.
Adiantou que iria promover na sua escola uma campanha objetivando anular a escolha dos homenageados feita pelos concluintes do curso de economia, por ocasião da festa de formatura. “Mesmo porque as eleições foram realizadas de uma forma um tanto incorreta, quando nem o próprio Diretório Acadêmico foi cientificado de sua realização, e, sobretudo, porque os escolhidos foram o reitor Guilardo Martins, como paraninfo, e o Ministro Albuquerque Lima, como patrono, o que não corresponde ao pensamento de grande número dos concluintes, fato que muito representa contra o bom nome e os propósitos de nossa classe. Caso não consigamos anular essa eleição, elegeremos outros homenageados para os dissidentes, o que será também uma forma válida de apresentarmos nosso protesto”, afirmou José Ferreira.
Declarou, por fim, que já dispunha do nome de todos os que delataram os participantes do arrombamento da despensa do Restaurante Universitário, alguns dos quais nem estavam presentes ao episódio.
“Os nomes foram conseguidos pelo nosso esquema de segurança e estarei pronto a fornecer à imprensa a identidade dos delatores, todos funcionários do Restaurante Universitário. A denúncia pública é uma primeira ação contra os dedos duros. Outras medidas virão posteriormente”, ameaçou o líder estudantil.
Pesquisando os jornais da época não encontrei registros de que a promessa de divulgação dos que ele apontava como delatores tivesse sido cumprida.
O fato é que, por várias vezes, José Ferreira desafiou as autoridades que procuravam prende-lo, sem que em qualquer dessas oportunidades fosse alcançado pelos policiais.
• Esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
• Comentários e informações adicionais devem ser encaminhados para o email: iurleitao@hotmail.com
 
			        
