O diretor do Colégio Estadual, seção do Róger, professor José Soares, deu início às punições a estudantes em razão do boicote ao desfile de sete de setembro. Entretanto, preferiu não assumir o verdadeiro motivo. Decidiu expedir a transferência do principal líder estudantil daquele estabelecimento, alegando que o mesmo teria faltado com respeito aos professores.
Antônio Soares Filho, o aluno punido com a transferência, era vice-presidente da União Pessoense dos Estudantes Secundaristas – UPES, e candidato a presidente do Grêmio Estudantil Castro Alves, cuja eleição estava programada para ser realizada no dia dezesseis de setembro.
Segundo o próprio estudante sua candidatura a presidente do Grêmio não era bem vista pela direção do colégio e teriam se aproveitado da oportunidade para afasta-lo da disputa. Soares liderou o movimento que provocou a ausência de trinta por cento dos alunos daquela escola na parada da independência, tendo sido essa a causa principal de sua transferência.
Assim que a comunidade estudantil do colégio tomou conhecimento da decisão do diretor reuniu-se em assembléia geral e deliberou formar uma comissão que teria a incumbência de solicitar a anulação da transferência. Nesses termos foi redigido um documento relatando o pedido, assinado por mais de novecentos estudantes daquele educandário. O presidente do Grêmio, Severino Gomes, que comandou o movimento em defesa do colega, teria afirmado que o não atendimento à solicitação, provocaria inevitavelmente a deflagração de uma greve, e estabeleceu um prazo de vinte e quatro horas para que fosse reconsiderada a punição.
Enquanto isso, o estudante transferido, contando com o apoio de boa parte dos companheiros de escola, continuou em sua campanha para a presidência do Grêmio.
A diretoria e a congregação de professores decidiram, no entanto, que as aulas seriam suspensas se o estudante Antônio Soares voltasse a freqüentar o colégio, liderando qualquer tipo de movimento. Acusavam-no de visar unicamente agitar e tumultuar as aulas. O professor José Soares chegou a ameaçar a solicitação de garantias à Secretaria de Segurança Pública para o funcionamento normal do colégio.
A reação dos estudantes, ao invés da greve, foi no sentido de impedir a realização da eleição da nova diretoria do grêmio. O candidato da oposição, Luciano Fonseca, solidário com a deliberação, retirou a sua postulação, evitando assim que o pleito fosse realizado com candidatura única. Mesmo com seu mandato encerrado, o presidente Severino Gomes, permaneceria na direção da entidade, até que fosse eleito um dirigente provisório, quando convocadas novas eleições. A escolha se daria pelo Conselho de Representantes, o que aconteceu no dia vinte e um de setembro, quando foi eleito o estudante Cláudio Swendsen, do grupo adversário do então presidente e do aluno punido com a transferência. O candidato por eles apresentado, Gilberto de Sá Barreto, foi derrotado.
Em outubro, realizadas as eleições, a ala ligada ao aluno transferido sofreu nova derrota, tendo sido eleita a chapa Luciano Fonseca-Fernando Fernandes, obtendo 565 votos, enquanto que seus concorrentes Antônio Trigueiro e Alcides Pereira Júnior conseguiam 492 sufrágios. Os perdedores alegaram que foram prejudicados pelo pouco tempo que tiveram para a campanha. Concluido o processo eleitoral e empossados os ganhadores, o clima no colégio voltou à normalidade.
• Esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
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