O mês de julho de 1968 se encerrava com um acontecimento que abalou o mundo político brasileiro: o confinamento do ex-presidente Jânio Quadros. Punido por ter feito críticas ao governo durante uma entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo, contrariando proibição de se manifestar politicamente, o ex-presidente, por ordem do então ministro da justiça, Luiz Antônio da Gama e Silva, foi preso em sua residência pelo exército e encaminhado para um exílio na cidade de Corumbá, fronteira com a Bolívia. Na cidade matogrossense o líder paulista permaneceu isolado por cento e vinte dias, hóspede, por conta do governo federal, do Hotel Santa Mônica, no centro da cidade.
Ao se deslocar para cumprir a sentença que lhe foi imposta, afirmou: “Vou para Corumbá, esperar o futuro”. Foi recepcionado por uma comissão de lideranças políticas, entre as quais, Carlos Lacerda, que cedeu uma casa de sua propriedade, a duzentos metros do hotel, onde se instalaria uma espécie de “quartel general” do confinamento.
Nos dois primeiros meses Jânio Quadros transformou a sua permanência em Corumbá numa espécie de férias. Apesar de vigiado vinte e quatro horas por dois oficiais do exercito, ele durante esse período freqüentou restaurantes e casas de personalidades da cidade. Tendo engordado cinco quilos nesses sessenta dias, chegou a ironizar, bem ao seu estilo: “a continuar engordando desse jeito, vou desmoralizar o instituto do confinamento”. Nos dois últimos meses foi proibido de sair do hotel.
Em se tratando de uma celebridade nacional o fato ganhou grande repercussão no mundo jurídico e político do país. Havia o entendimento geral de que o confinamento contrariava fundamentalmente todos os preceitos do nosso ordenamento jurídico. Politicamente provocou reações de protesto até de adversários históricos, pela compreensão de que a punição representava mais uma arbitrariedade cometida pela ditadura militar, atingindo frontalmente os mais elementares princípios da democracia.
Claro que no na nossa província a notícia caiu como uma bomba e passou a ser comentada, não só por lideranças políticas, mas por toda a população paraibana.
Como sempre a caixa de ressonância da repercussão em nosso estado era o plenário da assembléia legislativa.
O deputado Francisco Souto, dissidente da ARENA, declarou que “os democratas brasileiros vêem compungidos aquele grande patriota, que nunca fora acusado de corrupto ou subversivo, além de injustamente cassado, ser exilado dentro do sua própria pátria por um ato de violência e de força que não condiz com o espírito pacifista e democrático do povo brasileiro”.
Já o deputado Sebastião Calixto assim se manifestou: “O confinamento de Jânio Quadros constitui mais um ato de força do governo, entre os inúmeros que vêm sendo praticados ultimamente, através de seus ministros desorientados, como é o caso do Sr. Gama e Silva, da Justiça, que só pensa em resolver a situação do país ameaçando o seu povo, ou cerceando as liberdades individuais, como faz agora”.
Os jornais paraibanos da época publicam também a declaração do deputado Wilson Braga, da ARENA, partido de sustentação ao governo, que classificou de arbitrária e violenta a punição aplicada ao ex-presidente.
O governador João Agripino preferiu não opinar a respeito: “Tendo sido ministro das minas e energia, qualquer opinião emitida poderia ser entendida como uma ingratidão ao ex-presidente Jânio Quadros, como também, na condição de governador de estado, pronunciar-se contra o decreto de confinamento poderia parecer uma incorreção para com o presidente da república”.
• esse texto faz parte da série COMO A PARAÍBA VIVEU O ANO DE 1968
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