A Paraíba acompanhava com preocupação e especial interesse o noticiário nacional que dava conta dos acontecimentos que definiram o final do mês de junho de 1968. O clima era tenso em todo o país, especialmente em Brasília, Rio e São Paulo, onde o movimento estudantil ganhava mais espaços políticos.
Mas foi na capital carioca que ocorreram os episódios mais marcantes daquele ano, no confronto estudantes e polícia.
Sob a liderança de Vladimir Palmeira os estudantes universitários iniciaram um ato reivindicatório por mais verbas para a educação. No dia vinte de junho foram expulsos à força pela polícia militar do prédio da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando ali realizavam uma assembléia. Em conseqüência decidiram suspender as aulas por tempo indeterminado.
No dia seguinte, aconteceria o mais violento incidente daquele ano, que ficaria conhecido na história como a “sexta feira sangrenta”.
Os estudantes se organizaram para a realização de uma passeata no centro da cidade. No entanto, já prevendo que o governo reagiria de forma repressiva à manifestação, ergueram barricadas nas avenidas Rio Branco, México e Graça Aranha, numa tentativa de se protegerem dos ataques policiais. Calculava-se em cerca de dez mil o número de participantes da passeata.
O fato novo foi a espontânea adesão popular ao evento. O povo, solidário com os estudantes e indignado com a repressão, incorporou-se à manifestação. Quando a Cavalaria e tropas de choque invadiram o centro do Rio de Janeiro, a população passou a arremessar contra eles todo tipo de objeto do alto dos edifícios. A polícia reagiu a tiros, golpes de cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, etc.
Estava deflagrada aquela que seria a maior batalha campal já registrada na história política no Rio de Janeiro. Foram oito horas de enfrentamento entre populares e forças policiais, deixando um violento saldo de quatro pessoas mortas, vinte e cinco baleados, trinta e cinco soldados feridos e mais de mil presos.
Como não poderia deixar de ser, o acontecimento teve ampla repercussão no país, aumentando a revolta popular que passou a exigir das autoridades governamentais um tratamento mais civilizado e respeitoso às manifestações estudantis. Intelectuais, artistas, políticos, jornalistas, apelavam pelo diálogo.
Os jornais paraibanos em seus editoriais se uniam a esse sentimento de indignação e se somavam aos que, no Brasil inteiro, clamavam pelo entendimento e pelo fim da violência.
Eis alguns trechos do editorial do jornal Correio da Paraíba, edição do dia vinte e dois de junho:
“Há um clamor geral no país pelo estabelecimento de um diálogo imediato com os estudantes, além de encaminhar pacificamente os problemas e reivindicações que eles estão colocando com grande ardor. Não é justo ignorar as proposições da juventude estudiosa. Os jovens estão sabendo se impor, de uma forma ou de outra, como força política de nosso tempo.
A violência não consegue dobrar o ânimo da juventude. Pode-se mesmo admitir que a repressão, ao contrário de reprimir, só faz é exaltar o sentimento de revolta.
Daí a necessidade urgente de se estabelecer um diálogo com os jovens.
O diálogo que todos desejam só será válido se implicar em toda uma mudança de atitude com respeito aos estudantes e suas reivindicações.
Teríamos de alijar o preconceito de que a juventude é apenas massa de manobra de forças subversivas e de que toda reivindicação estudantil é obra de agitadores. Sem nos despirmos desses preconceitos não haverá diálogo’.
• esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
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