Junho/1968: Primeiro casamento de padres na Paraiba

 

O celibato clerical sempre foi um tema polêmico. Na própria Igreja Católica a questão é controversa. Muitos admitem que a proibição de casamento para os sacerdotes católicos tem concorrido para a diminuição do número de homens que se dedicam ao ministério religioso. Outros, numa visão mais conservadora, continuam defendendo a castidade e o celibato como mandamentos baseados no exemplo de Cristo, que nunca casou.

A década de sessenta conheceu uma Igreja Católica engajada nas questões sociais, com forte militância política e mais aberta a discutir inclusive temas considerados até então proibidos internamente.

O celibato era uma dessas regras que a igreja sequer admitia debater.

Até o século XI o casamento era comum entre padres católicos. Em 1139, no Concílio de Latrão, o matrimônio foi enfim proibido para sacerdotes. Embora proibitiva o que se sabe é que essa norma nunca foi cumprida rigorosamente. Conhecemos na nossa história vários casos de padres, que mesmo sem contraírem matrimônios, constituíram famílias. Mas a proibição oficial, de certa forma, incomodava. Mais do que isso, além de desestimular as decisões vocacionais, contribuía para a existência de perversões sexuais.

O Papa Paulo VI em 1965 permitiu que os padres se casassem e continuassem a freqüentar a Igreja, sem exercerem as funções de padre. Teriam que solicitar autorização ao Vaticano. O catolicismo quebrava então um preceito tradicional, ajustando-se ao tempo de mudanças que o mundo vivia.

Só em 1968 a Paraíba assistiu ao primeiro casamento de padre católico. O capelão da Polícia Militar, padre José Augusto foi o protagonista desse evento histórico que representava a inclusão do nosso estado nesse novo tempo da Igreja Católica. A noiva era Maria de Lourdes da Silva, uma professora da Escola Modelo da Paraíba.

A Igreja do Carmo, local onde foi realizada a cerimônia, ficou totalmente lotada de curiosos e familiares dos noivos. A celebração foi ministrada pelo padre Everaldo Peixoto que anos depois viria também a ser um dos religiosos a requererem ao Papa licença para contrair matrimônio.

O acontecimento teve ampla repercussão na sociedade paraibana, suscitando reprovações dos mais conservadores e aceitação dos que defendiam o fim do celibato na Igreja Católica. O jornal Correio da Paraíba, edição de seis de junho, trazia um artigo do jornalista Wellington Aguiar sobre o assunto. Eis alguns trechos de sua opinião a respeito:

“Esse padre José Augusto, que recentemente contraiu matrimônio com autorização do Papa, é figura, em nosso entender, digna de admiração. Imagino a batalha que sustentou, as intempéries que venceu com a determinação férrea de que estava possuído para levar à concretização o ideal que ele não buscou, mas que lhe surgiu de repente na estrada da vida. Venceu um mundo de preconceitos sociais com sua honestidade. Mostrou a todos sua falta de vocação para o farisaísmo muitas vezes institucionalizado.

A Igreja – mãe e mestra dos povos – compreendeu-lhe as razões, vislumbrando-lhe as boas intenções.

Nada de estranho. Esses abnegados sacerdotes que disseminam entre as gentes a fé e o amor ao próximo, são feitos como nós. São homens que, nascidos para o amor de Deus, nem por isso perdem a natureza humana. O que ocorre é que têm se tornado mais corajosos e autênticos, aliás como os queria o próprio Jesus”.

Ainda em 1968 outro padre encaminhou pedido ao Papa para licenciar-se de suas funções eclesiásticas e se casar. Foi outro capelão. Dessa vez do Grupamento de Engenharia, o padre Leovegildo Barbosa, que viria a se casar com Márcia Lúcia Henriques Santos.

• esse texto faz parte da série COMO A PARAÍBA VIVEU O ANO DE 1968
• comentários e informações a respeito devem ser encaminhados para o email: iurleitao@hotmail.com
 

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