Abril/1968: O festival paraibano da MPB

 

A década de sessenta ficou conhecida no Brasil como a “era dos festivais”. Nunca a música foi tão utilizada como manifestação de um sentimento de indignação e protesto contra a situação política vigente, quanto nessa época em que nosso país viveu sobre a égide de uma ditadura militar. Foi um tempo em que surgiu uma geração de cantores e compositores que enriqueceu a música popular brasileira numa produção artística que se tornou antológica.

Os festivais da Música Popular Brasileira se transformaram em instrumentos de expressão da insatisfação popular contra o regime militar que se instalara no Brasil. Através da música o movimento cultural nacional encontrava a forma de revelar seu repúdio ao amordaçamento da democracia que o regime militar nos impunha.

Foi em 1968 que o paraibano Geraldo Vandré, no final do ano, durante a realização do III Festival Internacional da Canção, no Rio, defendeu a música que se tornaria o hino da resistência contra o governo: CAMINHANDO ou PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI EM FLORES. Horas antes da finalíssima daquele certame musical o diretor da Tv Globo, promotora do festival, recebia o telefonema de um general advertindo de que a canção do paraibano, considerada favorita, não poderia ser consagrada vencedora, porque continha em seus versos mensagens compreendidas como subversivas pelos censores. Com um público majoritariamente composto por estudantes universitários o anúncio de que não seria a vencedora e se colocaria num segundo lugar (o primeiro foi Sabiá, de Tom Jobim), foi recebido por uma estrepitosa vaia. Quando Geraldo Vandré apresentou-se naquela noite a massa popular presente, calculada em aproximadamente vinte mil pessoas, cantou a uma só voz toda a letra da sua música.

Na Paraíba a Sociedade Cultural de João Pessoa, realizava naquele ano o seu II Festival Paraibano da Música Popular Brasileira. A abertura aconteceu no dia treze de abril, sábado de aleluia, no Teatro Santa Rosa, adiada por uma semana em razão dos incidentes ocorridos nos primeiros dias do mês na crise entre governo e estudantes. Recebia o patrocínio do governo do Estado, do Instituto de Desenvolvimento da Paraíba, da Prefeitura Municipal de João Pessoa e do Departamento Cultural da Universidade Federal da Paraíba.

A Comissão Organizadora do evento, coordenada pelo jornalista Expedito Gomes, estava composta por José Antônio, Elias Galiza, Antônio Costa, Francisco Dantas Filho, Jocélio Alves Dantas e José Nilton.

Eram apresentadores oficiais do Festival o jornalista Marconi Altamirando e a cantora Márcia Guedes Pereira, que à época cursava Filosofia em Recife.

Aos vencedores caberia, além dos troféus Galo de Campina, idealizado pelo publicista Antônio Cândido, e cedidos pelo advogado Cláudio de Paiva Leite, a seguinte premiação: Primeiro lugar: 500 cruzeiros novos e uma passagem aérea, ida e volta, ao Rio de Janeiro. Segundo lugar: 600 cruzeiros novos. Terceiro lugar : 400 cruzeiros novos.

A Comissão Julgadora era formada pelo maestro Augusto Simões, autor de várias composições eruditas; maestro Arlindo Teixeira, regente da Orquestra Sinfônica da Paraíba e do Coral Universitário da UFPb; professor e crítico literário Jairo Guedes; compositor e poeta Marcus Vinicius de Andrade; violonista Artur Andrade; pianista Aldemir Sorrentino e o crítico musical Francisco Ramalho.

Na mesma data era inaugurada a I Mostra de Literatura da Paraíba, montada na Galeria de Arte José Américo de Almeida, no Teatro Santa Rosa, onde ficaria em exposição durante todo o período do Festival.

As três eliminatórias aconteceram nos dias 13, 20 e 27 de abril, quando foram selecionadas treze músicas que participariam da finalíssima no dia 03 de maio.

Em publicações futuras divulgarei as músicas vencedoras, bem como as letras das composições vitoriosas.

• esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968
• comentários e informações adicionais devem ser encaminhados para o email: iurleitao@hotmail.com

 

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