Abril/1968: A versão do governo

 

Na manhã do dia cinco de abril o governo através da Casa Civil divulgou nota oficial dando a sua versão dos incidentes verificados na véspera, quando inclusive estudantes foram feridos a bala por policiais. Em razão do clima de indignação que se instalou na cidade e ante a repercussão negativa para o governo, buscou amenizar a situação procurando se explicar perante a opinião pública.

Eis, na íntegra, a nota divulgada:

“Conforme é do conhecimento público, o Governo do Estado permitiu que os estudantes paraibanos realizassem na segunda-feira última, dia primeiro, passeata de protesto pela morte do estudante Édson Luis de Lima Souto, que decorreu sem a verificação de incidentes.

Recebendo notícia de que os movimentos estudantis caminhavam, agora com a participação de elementos estranhos à classe, para uma campanha de agitação de âmbito nacional, tendente a conduzir o país a uma medida de exceção, a Secretaria de Segurança Pública expediu nota proibindo, até ulterior deliberação, novas manifestações de rua.

Ontem, porém, desrespeitando aquela determinação, os estudantes organizaram-se em passeata, dirigindo-se ao centro da cidade, onde entraram em conflito com o destacamento policial que interveio com a finalidade de salvaguardar a ordem pública.

A ação policial provocou choque, diante da reação dos estudantes, resultando ferimentos sem gravidade em três militares, dois estudantes e um popular. Em decorrência a polícia efetuou a prisão de sete estudantes, posteriormente postos em liberdade por determinação do Dr. Juiz de Menores da Capital, e por este entregues a uma comissão de universitários.

Acatando solicitação do Sr. Juiz das Execuções Criminais o Governador transmitiu instruções para que fosse permitido o acesso aos presos, de um advogado indicado por aquela autoridade judicial.

Ao tomar conhecimento de que teriam partido de uma viatura policial disparos efetuados contra estudantes no Parque Solon de Lucena, determinou o Chefe de Governo, o imediato recolhimento da patrulha sobre que recaiam as acusações, recomendando abertura de inquérito para apuração de responsabilidades.

Para evitar que a presença de policiais nas proximidades do Restaurante Universitário fosse interpretada como ato de provocação, proibiu ainda Sua Excelência terminantemente o trânsito de viaturas policiais naquelas imediações, mandando recolher à Secretaria de Segurança o “jeep” da Rádio Patrulha que transgredira aquelas instruções.

Sabem os paraibanos que o Governador João Agripino sempre dispensou aos estudantes as maiores provas de respeito, admiração e solidariedade, e estava ao seu lado quando na defesa de suas justas reivindicações.

Todavia, não pode estar solidário com eles no momento em que sua conduta, ainda que de boa fé, se constitua numa ameaça à segurança nacional.

Lamentando os fatos ocorridos, manifesta o Governo o seu propósito de manter a ordem e a sua confiança de contar com a colaboração dos estudantes para evitar que suas manifestações venham a ser deturpadas por pessoas não identificadas com as suas causas e sentimentos mais nobres.

Confia igualmente o Chefe do Poder Executivo na colaboração valiosa e imprescindível dos senhores pais no sentido de alertar e orientar os seus filhos para que não se deixem influenciar por elementos interessados na perturbação da tranqüilidade pública”.

Também naquela data o Governador João Agripino endereçou telegrama ao Ministro da Justiça informando sobre os últimos acontecimentos da crise estudantil na capital paraibana.

• esse texto faz parte da série COMO A PARAIBA VIVEU O ANO DE 1968.
• comentários e informações adicionais devem ser encaminhados para o email iurleitao@hotmail.com

 

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