Dois fatos provocaram no início de fevereiro uma agitação no mundo artístico brasileiro vinculado ao teatro. A proibição em Brasília da apresentação da peça “Um bonde chamado desejo”, de Tennesse Williams e a suspensão das atividades profissionais, por trinta dias, aplicada aos atores Maria Fernanda e Oscar Araripe. Os censores entendiam que o texto da peça continha termos ofensivos ao regime militar.
Os espetáculos teatrais em cartaz no Rio de Janeiro e São Paulo suspenderam suas encenações. Decretaram greve. O movimento ganhou a solidariedade de outros segmentos ligados às artes cênicas, em especial do cinema.
Colocavam como pontos principais de reivindicações a descentralização da Censura Federal, a suspensão da penalidade imposta aos atores a que nos referimos acima e a liberação das peças e filmes proibidos de apresentação pública. Uma comissão de artistas foi formada para dialogar com o Ministro da Justiça, Luiz da Gama e Silva, composta por Oduvaldo Viana Filho, Tônia Carrero, Bárbara Heliodora e Ferreira Gullar.
Os entendimentos resultaram na elaboração de um projeto de lei sobre censura, o que, de certa forma, amenizou o clima de protestos, mas não resolveu o problema. Essa luta de combate à censura se estendeu por todo o país e ocupou também espaços nos parlamentos com manifestações de apoio de lideranças políticas.
Antes que o movimento fosse deflagrado aqui, a Paraíba já se colocava na posição de contestação à supressão da liberdade intelectual de se manifestar através da produção cultural. Sobre o assunto o ex-governador e então deputado federal Pedro Moreno Gondim proferiu brilhante discurso na Câmara Federal, no dia nove de fevereiro, de onde podemos extrair afirmações como: “Ocorre uma reiteração de atos na vida brasileira feitos como desafios à liberdade e à inteligência. Aqui as palavras liberdade e inteligência parecem conviver em função da ênfase, pois que não é inteligente quem molesta a liberdade, nem honra o exercício da liberdade quem agride a inteligência”. “Tenta-se evitar a participação da comunidade social no espírito e objetivo do grande e novo movimento intelectual brasileiro”. “Como utilizar e enriquecer os sentimentos e emoções de um povo, sem plena liberdade de convivência e de integração, onde a arte surge espontânea e se devolve interpretada?”. “E como deduzir o grau dessa fidelidade e dessa harmonia, se o povo que a inspirou é privado de vê-la, nos erros e nas virtudes de sua interpretação?”
O pronunciamento do parlamentar paraibano ganhou ampla repercussão nos meios artísticos e intelectuais da nação.
No próximo texto registrarei o engajamento do teatro paraibano nessa reação contra a censura que o governo da ditadura vinha impondo à nossa produção cultural.
• esse texto faz parte da série COMO A PARAÍBA VIVEU O ANO DE 1968
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