Janeiro/1968: A Briga do Cachorro Com o Gato

O teatro brasileiro na década de sessenta buscou adotar uma prática artística que se colocasse em posição de contestação aos discursos autoritários da época. Fazia-se necessário, por isso mesmo, explorar temas políticos, religiosos e sociais, rompendo os padrões convencionais e contribuindo, portanto, com o movimento de transformação comportamental que tomava conta do mundo inteiro.

Logo após o golpe de 1964 a dramaturgia nacional, convivendo com aquele momento histórico de inquietação, se determinou a promover seu engajamento na luta política. A provocação teve reação forte do regime, reprimindo os projetos culturais que traziam mensagens ideológicas ou pregação de transformações sociais. As relações do mundo intelectual com as estruturas do poder foram traumáticas e conflituosas. O governo da ditadura militar, contando com o apoio de segmentos conservadores da sociedade e da igreja, impôs rígida censura à produção cultural que revelasse ruptura com conceitos e valores herdados. A defesa da moralidade e o fundamento político do anticomunismo ditavam os critérios de cortes e impedimentos de apresentação pública da criatividade artística.

Na Paraíba chegamos a 1968 com o teatro vivendo acontecimentos que enriqueciam nossa arte cênica. Na década de sessenta o Teatro Severino Cabral, em Campina Grande, foi inaugurado, e o Teatro Santa Ignez, em Alagoa Grande, voltou a funcionar. Tempo em que surgiram em todo o estado vários grupos teatrais. Rubens Teixeira, com a experiência adquirida em várias companhias cariocas e paulistas, criou o Teatro Universitário e o Teatro de Arena, juntamente com Ednaldo do Egypto e Pedrro Santos. Nasceu o movimento JUTECA –Juventude Teatral de Cruz das Armas

Em Campina Grande se instalou o FACMA, grupo do qual fez parte a atriz e cantora Elba Ramalho. Em Cajazeiras Íracles Pires, uma mulher extraordinária, que veio a dar nome ao teatro daquela cidade, movimentou a atividade artística da terra do Padre Rolim, criando o GRUTAC, dirigido inicialmente por Geraldo Ludugero e depois por Ubiratan Assis.

Altimar Pimentel, autor da peça título deste texto, alagoano de nascimento e paraibano de coração, além de teatrólogo dedicou-se em vida a pesquisar sobre o nosso folclore. Escreveu várias peças de teatro, entre elas “O Transcendentte”, “Casamento de branco”, “Viva a Nau Catarineta” e “O Auto da Cobiça”.

A BRIGA DO CACHORRO COM O GATO, encenada pelo Grupo de Artes Dramáticas do Teatro Santa Roza, foi baseada numa fábula regional que descreve o choque de contradições sociais das comunidades nordestinas, com personagens representando animais com atitudes humanas. O tema despertou a curiosidade da Censura Federal que demorou cerca de dois meses para libera-la, tentando de todas formas impor alguns cortes nos originais enviados a Brasília em dezembro de 1967.

A direção do espetáculo ficou a cargo de Anco Márcio, tendo no elenco a participação de nomes como Marcos Ramalho, Zezita Matos, Marcos Navarro, Breno Matos, Edigar Rocha, Walter Carvalho, Ervásio Gabínio e Evanise Pontes.

 

No dia 21 de janeiro o elenco embarcou para o Rio de Janeiro, onde representaria a Paraíba no V Festival Nacional de Teatro dos Estudantes. A peça foi muito bem recebida pelo público, sendo aplaudida de pé durante sua apresentação, recebendo elogios da crítica especializada.

A Paraíba começava bem o ano de 1968, com sua produção cultural, no universo da arte cênica do teatro, inserida no contexto histórico em que vivia
 

*  este texto faz parte da série COMO A PARAÍBA VIVEU O ANO DE 1968.

** comentários, críticas e informações adicionais sobre o tema deverão ser encaminhados para o email iurleitao@hotmail.com

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