Quando viver não é preciso




                              Para Sérgio, bússola e ébano indispensáveis

De todos os poetas,  penso que foi Fernando Pessoa quem melhor sintetizou o rumo da vida enquanto viagem movida à formação orgânica dos seres humanos durante certo tempo de existência.

Quando disse que navegar é preciso, enquanto valor controlado por máquinas exatas,  na proporção inversa da vida não sendo precisa, sem controle absoluto, intuo que Maria Isabela Pessoa Milanez Lima adotou um dia no silêncio de seus passos a imprecisão de viver como companheira de trajetória de vida, só menor do que Sérgio, seu grude, e Bau, irmão e tutor de todos os sentimentos  – seus dois amores.

Volto atrás: depois que Fernando de Paula Carrilho Milanez, seu timoneiro e pai, precisou ir mais depressa para o andar de cima, a vida de Isabela passou a ser inteiramente dedicada a servir e ser amparo vasto ao maior dos tesouros e amor, sua mãe guerreira Lourdinha.

A partir desta árvore genealógica muitos da família passaram a ser alvo de seus encantos, que sendo tantos, não continham o ciúme  como fator a atrapalhar o amor enorme da irmã, filha, tia, prima,sobrinha ou amiga dos poucos escolhidos.

Espírito às vezes de águia, ora de coruja, vez por outra de leoa, Isabela consolidou – se pela dedicação ao que escolhia como escolha ou meta de viver bem somente quando partilhado junto a quem havia chamado para a convivência de amparo.

Longe desse domínio se via perdida no sentimento desprezado, nunca verdadeiro por quanto ninguém nunca admitia isso, mas era assim que se sentia quando não dominava a cena e o ciúme vez por outra a lhe gerar pranto descabido, mas presente porque sem sentir profundamente o sentimento não era Isabela.

A vida, contudo, lhe reservou de uns tempos para cá a convivência com a fraqueza de jogar para bem longe a vaidade que lhe fez lá atrás ser soberana e bela nos salões da vida, como diamante raro outrora muito cobiçado.

Mas a (im)precisão da própria vida lhe fez também refém do descontrole – espécie de biruta orgânico ventando para todos os sentidos fazendo –lhe perder o estimulo em exibir seu domínio, somente infalível com o passar dos anos na voz segura na direção de Dona Lourdinha ou Sérgio. Nas outras direções não surtiam mais efeito daí o desencanto e o destino na direção da estrofe poética.

Por qualquer que seja a prosa ou verso certamente vai perdurar o sentimento de que amparado no designo de Deus, Isabela se entregou à viagem eterna desde quando transferiu para a web, às noites indormidas da internet, todo o mix de satisfação, novas descobertas e procuras, como se na vida e no outro lado da avenida Argemiro Figueiredo pouco existisse de interessante a lhe resgatar tanta vaidade.

Se tudo foi tão intenso e mais farto do que preciso eis que Isabela se consumiu na fartura da solidão, do monólogo explosivo só compreendido ao final pelas mãos e palavras rápidas de Dona Lourdinha, dínamo humano incomum, e do símbolo ébano de Sérgio, exemplo de companheiro inseparável.

Agora, quando o corpo inerte transformar – se em pó bíblico, um dia vamos exaltar a alegria de Isabela enquanto vida tanta lembrando o samba famoso de que “naquela mesa está faltando ela/ e a saudade dela está doendo em mim (nós)”.

Inté bela ilha,  bela Isa, Isabela.

 

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