Já fui um ficha suja

Comecei na política muito cedo, seguindo os passos do meu pai. Ele deixava o cargo de prefeito quando fui eleito vereador. Presidente da Câmara de Borborema por quatro anos, à época, nem a casa legislativa tinha verbas para gastar nem o vereador tinha dinheiro para ganhar. Eram os idos de 1964. Nesse mandato não posso contar vantagem de ter saído com a ficha limpíssima…

Dez anos depois fui eleito deputado estadual. Antes passei pela Procuradoria da Assembléia e do Porto de Cabedelo, desembarcando na Prefeitura da Capital como Secretário da gestão Dorgival Terceiro Neto. Afastei-me do cargo de secretário para assumir a Promotoria de Justiça de Belém, após aprovação em concurso publico. Voltei à administração municipal e dali saí para a Casa de Epitácio Pessoa. Em todas essas atividades nada cometi que viesse a tornar pelo menos encardida a minha ficha.

Como deputado ocupei todas as funções atribuídas pelo Parlamento aos seus integrantes, à exceção da Presidência. Fui ordenador de despesa como Primeiro Secretário e no exercício dessas funções obtive aprovação de todas as minhas contas, juntamente com os demais membros da mesa. Exerci por quatro anos a liderança do governo e nem assim, na proximidade do poder e de suas tentações, me apontaram qualquer registro desabonador.

Estive deputado federal por um período e de Brasília, voei para Fortaleza, nomeado por Itamar Franco para a Diretoria de Credito Rural do Banco do Nordeste. Percorri do Piauí ao norte de Minas e dei minha contribuição à aprovação de projetos que impulsionaram o desenvolvimento desse pedaço do Brasil. Ao sair do BNB deixei a Paraíba em terceiro lugar em volume de aplicações do Fundo de Financiamento do Nordeste. Há poucos dias, o Tribunal de Contas da União considerou regulares as minhas ultimas contas como membro da diretoria do BNB.

De volta à Paraíba fui Secretário da Administração de João Pessoa e Presidente da Previdência Municipal a convite do prefeito Chico Franca e depois, Secretário Executivo da Assembléia, com a confiança do Presidente Nominando Diniz.

Retomei ao aprendizado da advocacia forçado por um amigo enrolado com suas contas de prefeito perante o TCE. Quando começava a perceber honorários pela primeira vez na vida, a política me chamou novamente. Da campanha vitoriosa de Cássio Cunha Lima passei ao Governo, inicialmente como Secretário do Controle da Despesa Pública e depois como gestor da previdência. Até o presente, na vida pública, sou um reincidente ficha limpa.

Mas eu havia sujado a minha ficha antes mesmo de começar toda essa peregrinação pelos mais variados cargos públicos. Meu crime ocorreu no longínquo ano de 1962 do século passado. Em um terceiro dia de carnaval furtei uma menina que se dispunha a casar comigo mesmo me sabendo sem emprego e sem estudos. Tinha apenas um futuro a ser construído. Fui um ficha suja por muitos poucos dias. O casamento isentou-me da pena.. Se assim não fosse, o meu único crime estaria prescritíssimo pois está perto de completar cinqüenta anos.

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